Nunca fui boa em teorias conspiratórias ou planos mirabolantes, mas gosto de quebra-cabeças. Ultimamente, algumas peças vêm se encaixando tão lindamente na minha cabeça que seria um desperdício não mostrar pra alguém, a despeito da suspeita de elas não fazerem o menor sentido. Assim, revolvi postar a coisa toda aqui no Padeideia e deixar que cada um julgue por si, caso se dê ao trabalho de ler tudo.
A idéia é: talvez o caos no Haiti pós-terremoto possa nos dar uma pista de pra onde caminha a humanidade... Não se trata só de solidariedade mundial, mas também de economia global, por incrível que possa parecer.
Se estiverem corretos os dados colhidos pelo jornalista David Bornstein, no livro Como Mudar o Mundo, a humanidade consumiu um terço dos recursos naturais do planeta nas últimas três décadas. O número é estarrecedor e demonstra que nesse ritmo o capitalismo não tem como se sustentar como alternativa de modelo econômico.
No mesmo livro, o autor se esforça por demonstrar que os governos estão cada vez mais submetidos aos interesses de poucos, mas grandes grupos econômicos, fato corroborado claramente pelo fracasso das seguidas convenções sobre as mudanças climáticas. Em outras palavras, pagamos impostos para ver nossos governos cada vez mais submetidos às vontades de alguns poucos que tentam ditar as regras do consumo mundial, fabricando produtos com obsolescência programada para cada vez mais cedo, esgotando cada vez mais os recursos que sabemos serem esgotáveis. Vide:
http://www.youtube.com/watch?v=lgmTfPzLl4E
(continua no post de baixo...)
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Precisamos dar um salto de época
Pra mim, não só o modelo econômico precisa passar por uma transformação, mas também as relações de poder... Talvez estejamos precisando de um salto de época. Na definição de Domenico de Masi, em O Ócio Criativo, a humanidade só passou sete vezes por saltos assim, que vêm a ser a confluência de três fatores: descoberta de novas fontes de energia, mudanças nas divisões de poder e novas divisões do trabalho...
O que ele tenta demonstrar no livro é que as relações de trabalho já estão mudando com o advento do teletrabalho, retorno ao lar depois da saída para as fábricas, e da valorização do trabalho criativo em detrimento do trabalho braçal que deve diminuir substancialmente com o aumento da mecanização da indústria. Assim, para ele, a crise do desemprego global em massa e do advento de novas formas de trabalho mais intelectual e criativo, fazem com que a energia humana se volte especialmente para o setor de serviços. Isso significaria cada vez mais pessoas voltando a ser patrões de si mesmos, em um movimento nunca visto desde a pré-história.
Sobre as descobertas de novas fontes de energia, nem é preciso falar muito para saber que dependemos dos combustíveis fósseis muito mais politicamente do que tecnologicamente, com tantas descobertas envolvendo fontes alternativas de energia e protótipos de auto-sustentabilidade. Se considerarmos o período desde a revolução industrial até agora, quando vemos um esgotamento gritante dos recursos de toda ordem – fala-se em escassez de água e de alimentos, além de aquecimento global, derretimento de geleiras - acho que a humanidade tem potencial tecnológico, intelectual e logístico para reverter a situação, mas precisamos dar um salto nesse sentido, reunir todos os esforços e confluir pra isso, como aconteceu com a erradicação da varíola.
Já provamos outras vezes nossa capacidade de superação diante de grandes ameaças e já entendemos que o custo disso é mobilização mundial, agora muito mais fácil de potencializar devido ao advento da era da informação.
Porém, para mim, uma grande mudança nas divisões de poder ainda está pra acontecer, embora a vitória da democracia após derrotar os regimes totalitários, seja comunistas ou não, seja relativamente recente. Para além do debate comunismo x capitalismo (q pra mim está superado com a demonstração de falência do comunismo prático), acho que talvez não demore muito para a humanidade perceber a falência também do capitalismo como modelo viável.
O que poderia restar então? A resposta para uma nova divisão de poder no futuro pode estar no terceiro setor por uma série de motivos.
(continua no post de baixo...)
O que ele tenta demonstrar no livro é que as relações de trabalho já estão mudando com o advento do teletrabalho, retorno ao lar depois da saída para as fábricas, e da valorização do trabalho criativo em detrimento do trabalho braçal que deve diminuir substancialmente com o aumento da mecanização da indústria. Assim, para ele, a crise do desemprego global em massa e do advento de novas formas de trabalho mais intelectual e criativo, fazem com que a energia humana se volte especialmente para o setor de serviços. Isso significaria cada vez mais pessoas voltando a ser patrões de si mesmos, em um movimento nunca visto desde a pré-história.
Sobre as descobertas de novas fontes de energia, nem é preciso falar muito para saber que dependemos dos combustíveis fósseis muito mais politicamente do que tecnologicamente, com tantas descobertas envolvendo fontes alternativas de energia e protótipos de auto-sustentabilidade. Se considerarmos o período desde a revolução industrial até agora, quando vemos um esgotamento gritante dos recursos de toda ordem – fala-se em escassez de água e de alimentos, além de aquecimento global, derretimento de geleiras - acho que a humanidade tem potencial tecnológico, intelectual e logístico para reverter a situação, mas precisamos dar um salto nesse sentido, reunir todos os esforços e confluir pra isso, como aconteceu com a erradicação da varíola.
Já provamos outras vezes nossa capacidade de superação diante de grandes ameaças e já entendemos que o custo disso é mobilização mundial, agora muito mais fácil de potencializar devido ao advento da era da informação.
Porém, para mim, uma grande mudança nas divisões de poder ainda está pra acontecer, embora a vitória da democracia após derrotar os regimes totalitários, seja comunistas ou não, seja relativamente recente. Para além do debate comunismo x capitalismo (q pra mim está superado com a demonstração de falência do comunismo prático), acho que talvez não demore muito para a humanidade perceber a falência também do capitalismo como modelo viável.
O que poderia restar então? A resposta para uma nova divisão de poder no futuro pode estar no terceiro setor por uma série de motivos.
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De quem é o poder?
Concordo com Thoreau quando ele diz, em A Desobediência Civil, que "o melhor governo é o que menos governa". O que temos assistido, com o advento do liberalismo e suas decorrências, é que a posição dos teóricos liberais tem distorcido isso historicamente em benefício de uma menor intervenção estatal em assuntos econômicos, ocorrendo o contrario na vida dos cidadãos comuns, cada vez mais submetidos a um calhamaço de leis inservíveis e até injustas.
A princípio, parece-me que a idéia do pensador de Concord era fundamentar um Estado invisível na vida do cidadão (excetuando o oferecimento de serviços e legislando minimamente)... Mas, ao invés de servir às pessoas, o q se vê é um Estado traidor, que serve a alguns poucos, muitas vezes em detrimento do interesse da maioria que lhes emprestou esse poder. Acredito que pensado nisso Thoreau segue dizendo que “os nossos legisladores ainda não aprenderam a distinguir o valor relativo do livre-comércio frente à liberdade, à união e à retidão”, e adiante afirma ainda: “nunca haverá um Estado realmente livre e esclarecido até que ele venha a reconhecer no indivíduo um poder maior e independente - do qual a organização política deriva o seu próprio poder e a sua própria autoridade - e até que o indivíduo venha a receber um tratamento correspondente”.
Um exemplo disso é a tentativa de legislar sobre a transmissão de dados na internet no caso do PirateBay x grandes estúdios de Hollywood. Para quem não conhece essa história, é só dar uma olhada nesse documentário britânico pró-downloads e antidireitos autorais lançado na internet e dirigido pelo britânico Jamie King, 33, Ph.D em filosofia e cineasta amador. Segue um link pra baixar legendado:
http://baixacultura.org/2009/04/18/roube-este-filme-legendado/
Coerentemente, a balança judicial girou em favor do peso do vil metal e o Piratebay foi condenado. Não interessa se essa decisão contraria, ainda que momentaneamente, uma mudança de valores das novas gerações em relação ao que entendemos por direitos autorais e liberdade de acesso à informação. Não importa se essa geração que já nasceu online considera violar direitos autorais um mal menor diante dos benefícios que trará o acesso de todos a todos os dados, mesmo que isso vá de encontro ao interesse de grandes grupos econômicos. No final, também não importam muito nossos valores ultrapassados diante de uma geração que herda não só o mundo, mas a condução dos seus caminhos.
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A princípio, parece-me que a idéia do pensador de Concord era fundamentar um Estado invisível na vida do cidadão (excetuando o oferecimento de serviços e legislando minimamente)... Mas, ao invés de servir às pessoas, o q se vê é um Estado traidor, que serve a alguns poucos, muitas vezes em detrimento do interesse da maioria que lhes emprestou esse poder. Acredito que pensado nisso Thoreau segue dizendo que “os nossos legisladores ainda não aprenderam a distinguir o valor relativo do livre-comércio frente à liberdade, à união e à retidão”, e adiante afirma ainda: “nunca haverá um Estado realmente livre e esclarecido até que ele venha a reconhecer no indivíduo um poder maior e independente - do qual a organização política deriva o seu próprio poder e a sua própria autoridade - e até que o indivíduo venha a receber um tratamento correspondente”.
Um exemplo disso é a tentativa de legislar sobre a transmissão de dados na internet no caso do PirateBay x grandes estúdios de Hollywood. Para quem não conhece essa história, é só dar uma olhada nesse documentário britânico pró-downloads e antidireitos autorais lançado na internet e dirigido pelo britânico Jamie King, 33, Ph.D em filosofia e cineasta amador. Segue um link pra baixar legendado:
http://baixacultura.org/2009/04/18/roube-este-filme-legendado/
Coerentemente, a balança judicial girou em favor do peso do vil metal e o Piratebay foi condenado. Não interessa se essa decisão contraria, ainda que momentaneamente, uma mudança de valores das novas gerações em relação ao que entendemos por direitos autorais e liberdade de acesso à informação. Não importa se essa geração que já nasceu online considera violar direitos autorais um mal menor diante dos benefícios que trará o acesso de todos a todos os dados, mesmo que isso vá de encontro ao interesse de grandes grupos econômicos. No final, também não importam muito nossos valores ultrapassados diante de uma geração que herda não só o mundo, mas a condução dos seus caminhos.
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Tomando o poder de volta
Não saberia percorrer o caminho teórico entre a Desobediência Civil e a distorção que se revelou o Liberalismo, resultando em resoluções que contrariam o interesse geral em favor de uns poucos. Nem sei se traçar esse caminho é viável, teria que estudar mais.
Mas também não é surpreendente encontrar Thoreau permeando a fala dos rapazes do Piratebay. Para eles, trata-se de uma questão de desobediência civil continuar com a transferência de metadados, espalhando o serviço por servidores e voluntários de todo o mundo, de forma que um filme possa ser “baixado” de qualquer lugar, mesmo que a polícia invada um servidor no Japão e outro na Suécia. Trata-se de uma desobediência não só em relação ao Estado ou à Justiça, mas em relação ao que dita ao mundo os grandes detentores do poder econômico e midiático global.
Diante de tudo o exposto, o que me parece sensato pensar é que os caminhos da humanidade não podem continuar indefinidamente sendo escolhidos por um punhado de grandes corporações que mandam na economia global, mesmo que nosso interesse por um consumo desenfreado tenha outorgado a eles, ainda que indiretamente, o poder de definir como será o mundo dos nossos filhos e netos.
Nenhuma mudança nas relações de poder se dá sem uma tomada de consciência global para o problema que representa uma certa tirania. Se hoje nos submetemos à tirania do consumo porque nos é conveniente, por outro lado há grupos resistentes que mostram, como nos dois vídeos linkados acima, que outro mundo é possível.
Não estou aqui a defender a luta armada ou um levante sanguinário, longe disso! Penso que experiências passadas, como a Revolução Francesa e os regimes comunistas, já demonstraram suficientemente que novas formas de poder explodindo do nada podem ser tão destrutivas quando o benefício que trazem em seu bojo. Por isso, como Thoreau, não defendo uma sociedade perfeitamente anárquica. Não sou tão ingênua a ponto de achar que somos pessoas suficientemente preparadas pra isso... Nem sei se um dia seremos.
O que nos leva à seguinte indagação: que outro caminho é possível, então? E aqui voltamos ao tema básico que levou a esse texto: seria o presente do Haiti o nosso futuro?
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Mas também não é surpreendente encontrar Thoreau permeando a fala dos rapazes do Piratebay. Para eles, trata-se de uma questão de desobediência civil continuar com a transferência de metadados, espalhando o serviço por servidores e voluntários de todo o mundo, de forma que um filme possa ser “baixado” de qualquer lugar, mesmo que a polícia invada um servidor no Japão e outro na Suécia. Trata-se de uma desobediência não só em relação ao Estado ou à Justiça, mas em relação ao que dita ao mundo os grandes detentores do poder econômico e midiático global.
Diante de tudo o exposto, o que me parece sensato pensar é que os caminhos da humanidade não podem continuar indefinidamente sendo escolhidos por um punhado de grandes corporações que mandam na economia global, mesmo que nosso interesse por um consumo desenfreado tenha outorgado a eles, ainda que indiretamente, o poder de definir como será o mundo dos nossos filhos e netos.
Nenhuma mudança nas relações de poder se dá sem uma tomada de consciência global para o problema que representa uma certa tirania. Se hoje nos submetemos à tirania do consumo porque nos é conveniente, por outro lado há grupos resistentes que mostram, como nos dois vídeos linkados acima, que outro mundo é possível.
Não estou aqui a defender a luta armada ou um levante sanguinário, longe disso! Penso que experiências passadas, como a Revolução Francesa e os regimes comunistas, já demonstraram suficientemente que novas formas de poder explodindo do nada podem ser tão destrutivas quando o benefício que trazem em seu bojo. Por isso, como Thoreau, não defendo uma sociedade perfeitamente anárquica. Não sou tão ingênua a ponto de achar que somos pessoas suficientemente preparadas pra isso... Nem sei se um dia seremos.
O que nos leva à seguinte indagação: que outro caminho é possível, então? E aqui voltamos ao tema básico que levou a esse texto: seria o presente do Haiti o nosso futuro?
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O que o Haiti tem a ver com isso?
A meu ver, a alternativa para uma nova divisão de poder mundial seria uma em que as organizações civis e os empreendedores sociais sejam mais atuantes do que os governos... Isso de fato começa a ocorrer, visto que os Estados estão mais interessados em defender interesses privados de grandes corporações do que em atender às demandas sociais por serviços e cuidados de uma forma geral.
Assim é que chegamos à situação do Haiti, cujas cidades tinham como principais prédios não os palácios governamentais, mas os escritórios de organizações internacionais humanitárias. Embora hoje tenham seus prédios em escombros, ainda é a ONU e diversos empreendedores sociais do terceiro setor que comandam os esforços de reconstrução de uma sociedade destruída por essa imensa catástrofe natural, mas antes igualmente esmagada pelo poderio econômico-político, tendo como artilharia os sucessivos embargos econômicos.
Um texto publicado na imprensa americana dá bem a dimensão do papel do Tio Sam no caos haitiano pré-terremoto: http://www.huffingtonpost.com/bill-quigley/what-the-mainstream-media_b_424126.html
O texto diz: “Em 2004 os Estados Unidos apoiaram um golpe contra o presidente eleito democraticamente, Jean Bertrand Aristide. Isso manteve a longa tradição de os Estados Unidos decidirem quem governa o país mais pobre do hemisfério. Nenhum governo dura no Haiti sem aprovação dos Estados Unidos”. E também: “Na última década, os Estados Unidos cortaram ajuda humanitária ao Haiti, bloquearam empréstimos internacionais, forçaram o governo do Haiti a reduzir serviços, arruinaram dezenas de milhares de pequenos agricultores [forçando um êxodo rural em massa] e trocaram apoio ao governo por apoio às ONGs.”
Hoje, o Haiti é o exemplo extremado do grau de submissão estatal ao coquetel molotov formado por quem realmente dita as regras do fluxo de caixa global. Diz ainda o texto, “O governo foi sistematicamente privado de fundos. O setor público encolheu. Os pobres migraram para as cidades. E assim não havia equipes de resgate. Havia poucos serviços públicos de saúde.”
É emblemática a morte de Zilda Arns no terremoto, porque organizações humanitárias do mundo inteiro é que realmente exercem o dever estatal de prestar serviços à miserável população haitiana. Viva Rio, Médicos Sem Fronteiras, a ONU e outras tantas organizações, como a própria Pastoral da Criança, é que de fato exercem a obrigação mais vital que um Estado pode ter para com os cidadãos: o de prestar serviços e socorro em um caso extremado como esse. Daí a ambigüidade da minha pergunta inicial: seria o presente do Haiti o nosso futuro?
Honestamente não sei responder a essa pergunta. Tenho pensado no que diz Domenico de Masi. Se ele estiver certo e a mecanização da indústria apontar para uma liberação cada vez maior do serviço braçal em favor do trabalho intelectual e do tempo livre com a redução de jornada de trabalho, pelo menos nos países ricos e em desenvolvimento, teremos muito tempo de ócio criativo. Tempo para percebermos o quanto nos submetemos à tirania do consumo, e também para imaginarmos uma saída para essa crise global e humanitária que representa não só a situação do Haiti, mas a de centenas de milhões que sequer consomem o suficiente para se manterem vivos em todo o mundo.
Nesse ponto, não resta muita dúvida sobre o que fazer para os que tiverem ao mesmo tempo livre dos encargos da manutenção da própria família e da necessidade de acúmulo de riquezas pessoais. Antes, esses se entregavam às igrejas como missionários da fé, hoje dá para fazer mais que isso e sem o inconveniente do celibato ou da subjugação mental... Mas isso é assunto para outro texto!
(Por hj é só pessoal!)
Assim é que chegamos à situação do Haiti, cujas cidades tinham como principais prédios não os palácios governamentais, mas os escritórios de organizações internacionais humanitárias. Embora hoje tenham seus prédios em escombros, ainda é a ONU e diversos empreendedores sociais do terceiro setor que comandam os esforços de reconstrução de uma sociedade destruída por essa imensa catástrofe natural, mas antes igualmente esmagada pelo poderio econômico-político, tendo como artilharia os sucessivos embargos econômicos.
Um texto publicado na imprensa americana dá bem a dimensão do papel do Tio Sam no caos haitiano pré-terremoto: http://www.huffingtonpost.com/bill-quigley/what-the-mainstream-media_b_424126.html
O texto diz: “Em 2004 os Estados Unidos apoiaram um golpe contra o presidente eleito democraticamente, Jean Bertrand Aristide. Isso manteve a longa tradição de os Estados Unidos decidirem quem governa o país mais pobre do hemisfério. Nenhum governo dura no Haiti sem aprovação dos Estados Unidos”. E também: “Na última década, os Estados Unidos cortaram ajuda humanitária ao Haiti, bloquearam empréstimos internacionais, forçaram o governo do Haiti a reduzir serviços, arruinaram dezenas de milhares de pequenos agricultores [forçando um êxodo rural em massa] e trocaram apoio ao governo por apoio às ONGs.”
Hoje, o Haiti é o exemplo extremado do grau de submissão estatal ao coquetel molotov formado por quem realmente dita as regras do fluxo de caixa global. Diz ainda o texto, “O governo foi sistematicamente privado de fundos. O setor público encolheu. Os pobres migraram para as cidades. E assim não havia equipes de resgate. Havia poucos serviços públicos de saúde.”
É emblemática a morte de Zilda Arns no terremoto, porque organizações humanitárias do mundo inteiro é que realmente exercem o dever estatal de prestar serviços à miserável população haitiana. Viva Rio, Médicos Sem Fronteiras, a ONU e outras tantas organizações, como a própria Pastoral da Criança, é que de fato exercem a obrigação mais vital que um Estado pode ter para com os cidadãos: o de prestar serviços e socorro em um caso extremado como esse. Daí a ambigüidade da minha pergunta inicial: seria o presente do Haiti o nosso futuro?
Honestamente não sei responder a essa pergunta. Tenho pensado no que diz Domenico de Masi. Se ele estiver certo e a mecanização da indústria apontar para uma liberação cada vez maior do serviço braçal em favor do trabalho intelectual e do tempo livre com a redução de jornada de trabalho, pelo menos nos países ricos e em desenvolvimento, teremos muito tempo de ócio criativo. Tempo para percebermos o quanto nos submetemos à tirania do consumo, e também para imaginarmos uma saída para essa crise global e humanitária que representa não só a situação do Haiti, mas a de centenas de milhões que sequer consomem o suficiente para se manterem vivos em todo o mundo.
Nesse ponto, não resta muita dúvida sobre o que fazer para os que tiverem ao mesmo tempo livre dos encargos da manutenção da própria família e da necessidade de acúmulo de riquezas pessoais. Antes, esses se entregavam às igrejas como missionários da fé, hoje dá para fazer mais que isso e sem o inconveniente do celibato ou da subjugação mental... Mas isso é assunto para outro texto!
(Por hj é só pessoal!)
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Quem ja encontrou esse passarinho, disse:
"Na sociedade industrial foi a razão que triunfou. Hoje,
conquistado o que é racional, podemos voltar a valorizar sem
temor também a esfera emotiva. Emoção, fantasia,
racionalidade e concretude são os ingredientes da criatividade.
A racionalidade nos permite executar bem as nossas tarefas,
mas sem emotividade não se cria nada de novo. Para ser
criativo é essencial o cruza- mento entre racionalismo e
emotividade."
(Domenico de Masi, O Ócio Criativo)
conquistado o que é racional, podemos voltar a valorizar sem
temor também a esfera emotiva. Emoção, fantasia,
racionalidade e concretude são os ingredientes da criatividade.
A racionalidade nos permite executar bem as nossas tarefas,
mas sem emotividade não se cria nada de novo. Para ser
criativo é essencial o cruza- mento entre racionalismo e
emotividade."
(Domenico de Masi, O Ócio Criativo)
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Olha o passarinho!
Gosto de pensar, às vezes, que as idéias são como passarinhos preciosos voando por aí. Hipnotizam-nos tanto que não resistimos a seu encanto e os mais espertos, rápidos ou desavisados de nós consegue pega-los num golpe de sorte. E depois, como preciosidades q são, nós os soltamos de novo para permitir q alguém os pegue novamente e possa se encantar com a mesma beleza, tirando outras conclusões para deleite dos seus pares.
Há dias, tento pegar um desses lindos passarinhos, mas ainda não consigo focalizar bem. Daí, resolvi escrever pra ver se a visão fica menos turva. Quem quiser contribuir, os comments estão aí pra isso... É por isso que chamamos esse espaço de pá de idéia!
Mas, vejamos como eu consigo desenhar pra quem quiser pintar...
Tem a ver com mídia-educação, educação emocional e pedagogia. Não sou psicóloga, nem pedagoga, sou jornalista... Mas creio não ser absurdo dar pitaco em outras áreas quando sinto falta da atuação delas em certos aspectos da vida.
Aprendemos na escola básica coisas como escrever, ler, matemáticas, biologia, química, física, mas ninguém ensina na escola coisas com potencial pra se tornarem grandes problemas: como cuidar de um coração partido, como manter um relacionamento, como educar os filhos, que postura adotar diante de um amigo desesperado. Enfim, são coisas da vida, vc poderia argumentar, cada uma aprende por si. Mas, p q esse mesmo discurso não é usado para todas as outras áreas do saber?
Sei que é difícil ensinar como se cuida, por exemplo, de um coração partido, qdo não se tem um consenso sobre isso, mas a mídia acaba fazendo esse trabalho de forma atravessada através da novela do dia. Ou seja, como sociedade deixamos na mão de um punhado de escritores dar respostas que poderiam ser trabalhadas por psicólogos nas escolas ou que poderiam ser objeto de projetos de mídia-educação, com os jovens sendo estimulados a externar seus dilemas e buscar soluções em debates abertos, quem sabe através da internet. Eles talvez descobrissem que não precisam enfrentar sozinhos dilemas q todos enfrentam de uma forma ou de outra.
Pronto.. desenhei! Mas, com que cores pintar?
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Psiu... tá com pressa porquê?
Estava lá sentada naquela sala de espera há alguns minutos e entra um casal simpático. Eles deviam ter mais de 55 anos. Ela sentou recostada nele e ele a recebeu no ombro como se aquele fosse o único lugar no mundo onde ela poderia estar. No meio da manhã, os dois ali... Ele não deveria estar correndo estressado no trabalho? Ela também não deveria, por sua vez, estar outro tanto no lugar onde trabalhava? Não, eles estavam ali juntos pra revisão do carro, naquela sala vip da concessionária... no meio da manhã, despreocupados!
Na TV de plasma, o apresentador do canal a cabo não tinha pressa alguma em falar das pequenas tragédias, nem a professora da USP em analisar, como especialista entrevistada. Tão diferente da TV aberta! Ela tava lá, falando pausadamente como se tempo não fosse dinheiro na televisão. Acho é que pra ela não era mesmo, o tempo para ela representava outra coisa. Afinal, foram anos e anos debruçada sobre os livros para acumular aquele conhecimento.
Quanto ao casal, anos e anos para saborear as delicias de uma manhã juntos, sem pressa...
Não, ninguém ali tinha pressa. Se tivessem pressa, eles não pareceriam tão tranqüilos, na paz de quem compartilha um instante com alguém q ama. Se tivesse tanta pressa assim, a professora não teria acumulado aquele conhecimento de que falava com tanto encanto!
Ninguém ali parecia se preocupar com isso: TEMPO. E porque estariam? Pressa para receber o carro, afinal era só uma troca de óleo? Pressa para ir ao centro comprar não sei o que, pra depois e ao trabalho fazer o de sempre, e depois pressa pra chegar em casa e não ter nada pra fazer? Pressa, pressa, pressa... Pressa pra quê?
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