quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Ex-amigos

Quantos penares, loucos alaridos,
Coração a palpitar em cultivos descabidos
Carência inconseqüente, palavras ditas sem pensar
E um errado recado minhas atitudes teimam em dar.

Eu gosto e digo, não gostas e somes!
Por que misturar amor e carne e osso,
Velhas afeições cansadas de esforço?
Como explicar, como fazer entender

Que as coisas podem ser sem nunca acontecer?
Por que o súbito sumiço?
Não, não se tratava disso!

Haikai kai

Tenho um saquinho preto onde atiro alguns pensamentos
Às vezes, sem querer, caem umas pessoinhas lá.

quinta-feira, 4 de março de 2010

ZÉ CUECA-FEIRA!

Fala sério! É ou não é ridícula a propaganda da cerveja “X” que usa a baboseira da ZÉ CUECA-FEIRA? O cara que diz que bebe porque gosta de ficar bêbado; o que assume gostar da sensação da droga na sua mente; o que bebe só pra fulerar, enfim, são muito mais admiráveis que aqueles que se deixam levar por uma propaganda tão idiota e – pasmemos – reproduzem isso nos bares, essa instituição irmã do cabaré e mais antiga que a escola ou a igreja! Essa é mais uma versão pouco sofisticada do “faça isso porque o Zé Cueca – que é famoso – faz!”
Dizem alguns que a cerveja é gostosa! Que mentira! Gostoso é suco – com ou sem leite; gostoso é chá, é... sei lá... gelatina, bolo, a maioria das frutas... Até quanto a refrigerante é tolerável que se diga: é gostoso; embora não se possa dizer que faça bem à saúde. Mas cerveja?! Cerveja amarga pra caralho! Eu lembro que a primeira vez que ingeri um gole – e eu não sabia porque estava fazendo aquilo – achei o gosto horrível e, devo confessar, não questionei sobre o porquê das pessoas beberem aquilo, ou seja, eu era a vítima perfeita: mais um que não sabia porque bebia... Felizmente eu acordei e vi que não havia nada que obrigasse a beber aquele mijo!
Então, amigos, chutemos o pau da barraca do Zé Cueca e denunciemos que ele tá “fazendo gato” pra não pagar a energia! Gritemos com voz rouca que ele obscurece e empobrece o ser humano já tão confuso de nossos dias! Vamos dizer a ele que ainda existem pessoas cujo coração e mentes não são vazios o suficiente para recorrerem à sua panacéia fermentada!
Eu sei que 99% das propagandas de TV merecem críticas parecidas, mas nem todos dariam um texto com um título legal...

(Por Paulo Henrique)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Seria o presente do Haiti o nosso futuro?

Nunca fui boa em teorias conspiratórias ou planos mirabolantes, mas gosto de quebra-cabeças. Ultimamente, algumas peças vêm se encaixando tão lindamente na minha cabeça que seria um desperdício não mostrar pra alguém, a despeito da suspeita de elas não fazerem o menor sentido. Assim, revolvi postar a coisa toda aqui no Padeideia e deixar que cada um julgue por si, caso se dê ao trabalho de ler tudo.

A idéia é: talvez o caos no Haiti pós-terremoto possa nos dar uma pista de pra onde caminha a humanidade... Não se trata só de solidariedade mundial, mas também de economia global, por incrível que possa parecer.

Se estiverem corretos os dados colhidos pelo jornalista David Bornstein, no livro Como Mudar o Mundo, a humanidade consumiu um terço dos recursos naturais do planeta nas últimas três décadas. O número é estarrecedor e demonstra que nesse ritmo o capitalismo não tem como se sustentar como alternativa de modelo econômico.

No mesmo livro, o autor se esforça por demonstrar que os governos estão cada vez mais submetidos aos interesses de poucos, mas grandes grupos econômicos, fato corroborado claramente pelo fracasso das seguidas convenções sobre as mudanças climáticas. Em outras palavras, pagamos impostos para ver nossos governos cada vez mais submetidos às vontades de alguns poucos que tentam ditar as regras do consumo mundial, fabricando produtos com obsolescência programada para cada vez mais cedo, esgotando cada vez mais os recursos que sabemos serem esgotáveis. Vide:

http://www.youtube.com/watch?v=lgmTfPzLl4E

(continua no post de baixo...)

Precisamos dar um salto de época

Pra mim, não só o modelo econômico precisa passar por uma transformação, mas também as relações de poder... Talvez estejamos precisando de um salto de época. Na definição de Domenico de Masi, em O Ócio Criativo, a humanidade só passou sete vezes por saltos assim, que vêm a ser a confluência de três fatores: descoberta de novas fontes de energia, mudanças nas divisões de poder e novas divisões do trabalho...

O que ele tenta demonstrar no livro é que as relações de trabalho já estão mudando com o advento do teletrabalho, retorno ao lar depois da saída para as fábricas, e da valorização do trabalho criativo em detrimento do trabalho braçal que deve diminuir substancialmente com o aumento da mecanização da indústria. Assim, para ele, a crise do desemprego global em massa e do advento de novas formas de trabalho mais intelectual e criativo, fazem com que a energia humana se volte especialmente para o setor de serviços. Isso significaria cada vez mais pessoas voltando a ser patrões de si mesmos, em um movimento nunca visto desde a pré-história.

Sobre as descobertas de novas fontes de energia, nem é preciso falar muito para saber que dependemos dos combustíveis fósseis muito mais politicamente do que tecnologicamente, com tantas descobertas envolvendo fontes alternativas de energia e protótipos de auto-sustentabilidade. Se considerarmos o período desde a revolução industrial até agora, quando vemos um esgotamento gritante dos recursos de toda ordem – fala-se em escassez de água e de alimentos, além de aquecimento global, derretimento de geleiras - acho que a humanidade tem potencial tecnológico, intelectual e logístico para reverter a situação, mas precisamos dar um salto nesse sentido, reunir todos os esforços e confluir pra isso, como aconteceu com a erradicação da varíola.

Já provamos outras vezes nossa capacidade de superação diante de grandes ameaças e já entendemos que o custo disso é mobilização mundial, agora muito mais fácil de potencializar devido ao advento da era da informação.

Porém, para mim, uma grande mudança nas divisões de poder ainda está pra acontecer, embora a vitória da democracia após derrotar os regimes totalitários, seja comunistas ou não, seja relativamente recente. Para além do debate comunismo x capitalismo (q pra mim está superado com a demonstração de falência do comunismo prático), acho que talvez não demore muito para a humanidade perceber a falência também do capitalismo como modelo viável.

O que poderia restar então? A resposta para uma nova divisão de poder no futuro pode estar no terceiro setor por uma série de motivos.

(continua no post de baixo...)

De quem é o poder?

Concordo com Thoreau quando ele diz, em A Desobediência Civil, que "o melhor governo é o que menos governa". O que temos assistido, com o advento do liberalismo e suas decorrências, é que a posição dos teóricos liberais tem distorcido isso historicamente em benefício de uma menor intervenção estatal em assuntos econômicos, ocorrendo o contrario na vida dos cidadãos comuns, cada vez mais submetidos a um calhamaço de leis inservíveis e até injustas.

A princípio, parece-me que a idéia do pensador de Concord era fundamentar um Estado invisível na vida do cidadão (excetuando o oferecimento de serviços e legislando minimamente)... Mas, ao invés de servir às pessoas, o q se vê é um Estado traidor, que serve a alguns poucos, muitas vezes em detrimento do interesse da maioria que lhes emprestou esse poder. Acredito que pensado nisso Thoreau segue dizendo que “os nossos legisladores ainda não aprenderam a distinguir o valor relativo do livre-comércio frente à liberdade, à união e à retidão”, e adiante afirma ainda: “nunca haverá um Estado realmente livre e esclarecido até que ele venha a reconhecer no indivíduo um poder maior e independente - do qual a organização política deriva o seu próprio poder e a sua própria autoridade - e até que o indivíduo venha a receber um tratamento correspondente”.

Um exemplo disso é a tentativa de legislar sobre a transmissão de dados na internet no caso do PirateBay x grandes estúdios de Hollywood. Para quem não conhece essa história, é só dar uma olhada nesse documentário britânico pró-downloads e antidireitos autorais lançado na internet e dirigido pelo britânico Jamie King, 33, Ph.D em filosofia e cineasta amador. Segue um link pra baixar legendado:
http://baixacultura.org/2009/04/18/roube-este-filme-legendado/

Coerentemente, a balança judicial girou em favor do peso do vil metal e o Piratebay foi condenado. Não interessa se essa decisão contraria, ainda que momentaneamente, uma mudança de valores das novas gerações em relação ao que entendemos por direitos autorais e liberdade de acesso à informação. Não importa se essa geração que já nasceu online considera violar direitos autorais um mal menor diante dos benefícios que trará o acesso de todos a todos os dados, mesmo que isso vá de encontro ao interesse de grandes grupos econômicos. No final, também não importam muito nossos valores ultrapassados diante de uma geração que herda não só o mundo, mas a condução dos seus caminhos.

(continua no post de baixo...)

Tomando o poder de volta

Não saberia percorrer o caminho teórico entre a Desobediência Civil e a distorção que se revelou o Liberalismo, resultando em resoluções que contrariam o interesse geral em favor de uns poucos. Nem sei se traçar esse caminho é viável, teria que estudar mais.

Mas também não é surpreendente encontrar Thoreau permeando a fala dos rapazes do Piratebay. Para eles, trata-se de uma questão de desobediência civil continuar com a transferência de metadados, espalhando o serviço por servidores e voluntários de todo o mundo, de forma que um filme possa ser “baixado” de qualquer lugar, mesmo que a polícia invada um servidor no Japão e outro na Suécia. Trata-se de uma desobediência não só em relação ao Estado ou à Justiça, mas em relação ao que dita ao mundo os grandes detentores do poder econômico e midiático global.

Diante de tudo o exposto, o que me parece sensato pensar é que os caminhos da humanidade não podem continuar indefinidamente sendo escolhidos por um punhado de grandes corporações que mandam na economia global, mesmo que nosso interesse por um consumo desenfreado tenha outorgado a eles, ainda que indiretamente, o poder de definir como será o mundo dos nossos filhos e netos.

Nenhuma mudança nas relações de poder se dá sem uma tomada de consciência global para o problema que representa uma certa tirania. Se hoje nos submetemos à tirania do consumo porque nos é conveniente, por outro lado há grupos resistentes que mostram, como nos dois vídeos linkados acima, que outro mundo é possível.

Não estou aqui a defender a luta armada ou um levante sanguinário, longe disso! Penso que experiências passadas, como a Revolução Francesa e os regimes comunistas, já demonstraram suficientemente que novas formas de poder explodindo do nada podem ser tão destrutivas quando o benefício que trazem em seu bojo. Por isso, como Thoreau, não defendo uma sociedade perfeitamente anárquica. Não sou tão ingênua a ponto de achar que somos pessoas suficientemente preparadas pra isso... Nem sei se um dia seremos.

O que nos leva à seguinte indagação: que outro caminho é possível, então? E aqui voltamos ao tema básico que levou a esse texto: seria o presente do Haiti o nosso futuro?

(continua no post de baixo...)