Sabine diz:
Vou te falar uma coisa
Griffin diz:
diz
Sabine diz:
mas isso é pra q vc guarde e diga pra mim nos dias de tempestade
Griffin diz:
sim senhora
Sabine diz:
se eu vier outras vezes com aquela historia de autodestruição
e ousar falar em amor nessas horas
vc por favor me corrija
pq isso nem de perto é o que o Amor pode ser
Amor não é pra despertar miseria e destruição
é pra reeguer e falar de dias melhores
Griffin diz:
opa, lição boa, Sabine!
Sabine diz:
Pq se vc quiser realmente honrar alguem com isso que chamamos de amor
que façamos isso honrando a vida
sendo maiores, mais fortes que nos dia anterior
Griffin diz:
isso, sem massacrar ninguem com esse amor, pq amor não é pra causar dor, so prazer
so alegria
Sabine diz:
só felicidade
calmo, benigno, paciente, sabio
Griffin diz:
fechou!!!!!!!
hj msm pensei sobre isso
Sabine diz:
altruista, autosuficente
Griffin diz:
mas não tinha chegado a essa sua elaboração tão mais completa!
Sabine diz:
Eu so penso nessas coisas com clareza qdo estou feliz
ou mais leve
Griffin diz:
eu tb!
Sabine diz:
nos outros dias sempre fica uma neblina
Griffin diz:
eu sei como é
mas por aki a espiritualidade andou me dando uma colher de chá e parece q pra vc tb!
bendito seja Deus q se apieda de nos, pobres desgraçados..rs
ja cheguei a conclusao Sabine q sou um pobre doente, lutando pela sanidade, pela saúde.. mas um dia a gente consegue
Sabine diz:
sim, um dia a gente ultrapassa isso
Griffin diz:
e vai ser muito bom saber q estivemos juntos, nos apioando nesse tempo inglório!...rs
Sabine diz:
É isso aí!!!
É uma força absurda essa que me atira ao chao --- tao absurda que me faz esquecer de algo tao obvio assim
ou talvez sejam minhas pernas fracas
mas se algum dia encontrasse alguem que me dissesse
Ai, Sabine, eu "amava" tanto vc, mas como era impossivel estar por perto eu me atirei na ponte e agora sou essa coisa vagante e triste
Eu ia pensar
Eca, coitada dessa pessoa
Griffin diz:
kkkkkkkkkkk
Sabine diz:
Acho que a palavra que me viria a mente seria pena
Griffin diz:
sem dúvida!
Sabine diz:
Eu ia preferir ouvir algo como
Ai, Sabine, houve dias em que eu nao sabia amar vc
Entao eu acordei e resolvi lutar e seguir em frente
olhar a vida de peito aberto, com esperança, alegria e coragem
e a cada passo algo crescia em mim
vc ainda estava la, mas a casa nao estava em chamas
E fui connstruindo um coração mais forte, algo realmente bonito
das cinzas um jardim
e foi entao que eu entendi o longo caminho que tive que percorrer
ate estar aqui e dizer
Agora sim eu te amo"
entende meu ponto de vista, Griffin?
piegas como sempre
e mesmo que eu nunca chegue diante de ninguem com palavras assim
o caminho valeu a pena
por si só
pois como ja disse antes
Id opus est
o amor basta a si mesmo
Griffin diz:
entendo demais, Sabine...
esses dias tenho pensado em como é imbecil essa postura de achar que alguém vai fazer vc ficar feliz consigo msm
a tarefa é individual
Sabine diz:
É aí!! Se tivesse uma taça aqui eu brindariam- tenho um copo de Nescau -- um brinde a isso!
Griffin diz:
sua vida ser algo q vale a pena aos seus olhos não depende de ninguem além de vc msm
kkkkkkkkkk
eu tb!
Sabine diz:
tim tim
Griffin diz:
ter alguém é ótimo, te dá conforto, alegria, te liberta da carencia, mas não te dá tudo pronto
percebe?
felicidade não é só ter alguem, é bem mais!
Sabine diz:
percebo sim
Bem, é isso
Griffin diz:
é sim!
Sabine diz:
a new day Um novo dia
the sun is shining O sol está brilhando
seems I'm closer to finding Parece que esotu perto de encontrar
that life is more than where we are Essa vida é mais do que onde estamos
no way that I am TURNING De forma alguma estou mudando
as long as the sun is burning Enquanto o sol estiver queimando
era a muisca que estava ouvindo enquanto falava contigo
http://www.youtube.com/watch?v=qyKKcaJmyA8&feature=PlayList&p=57E57CD5FBF25E13&index=0
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
quinta-feira, 5 de março de 2009
Salve-se, quem quiser!
Se a mente é mesmo como a superfície de um lago, deve ser verdade que, uma vez agitada, a gente não consiga enxergar o mundo com clareza. É preciso acalmá-la. Mas, como fazer isso em um tempo onde a vida virtual compete com a real, onde perdemos tão facilmente o foco, deixando de lado a oportunidade de repensar nossas vidas, de nos reinventar, mudar os rumos e não querer mais do mesmo?
Orkut, msn e skype nos põem em contato com o mundo, mas às vezes desviam a atenção dos nossos objetivos ou mesmo de pequenos prazeres, como o de passar uma noite com os amigos ou uma tarde de bobeira conversando com quem escolheu viver o tempo todo na “vida real”. A TV, nosso narcótico em declínio, ainda nos hipnotiza a ponto de acharmos que a vida de um grupo de confinados em uma casa cheia de câmeras, onde praticamente nada acontece fora do roteiro, é mais interessante q a nossa.
Mas isso tudo, a gente, às vezes, escolhe não ver. Assim como escolhemos não ver a nós mesmos em meio à agitação externa. Por isso, parecem enfadonhas e sem sentido perguntas filosóficas como “qual é o meu papel nessa vida?”, “como contribuir pra um mundo melhor?”, “acordar e levantar todos os dias é uma ação que se justifica só pq sou bicho?”, “o que faço pra minha vida deixar de ser essa rotina come-dorme-estuda-trabalha?”, “sou mesmo mais q um animal?”, “a felicidade é alcançável ou vou sempre achar que ela está num futuro incerto?”, “posso me sentir feliz, apesar do caos?”.
Mesmo em tempos pré-internet, vivi uma vida inteira não querendo ser eu, sempre querendo ser como alguém que me servia de parâmetro, geralmente heróis vindos de livros, dos filmes ou q eu encontrava na escola. Mas o tempo passou e me dei conta de que não há heróis lá fora, cada um vive como pode, e a maioria está tão insatisfeita consigo mesma quanto eu. O problema é q eu e a maioria dificilmente admitimos que não há um ingrediente secreto ou transformação repentina q vá nos fazer, do dia pra noite, ser como nossos idealizados heróis. Se quisermos uma mudança aqui, temos q trabalhar em cada milímetro dela.
No fim, a vida dos outros é tão interessante ou desinteressante quanto a minha ou a sua, o que faz a diferença é o quanto a pessoa se ocupa de si mesma e faz dessa vida um lugar onde as coisas acontecem. Mas é mais fácil fugir desse desafio e viver uma vida de voyer, enquanto a gente envelhece e nada muda pq nós não quisemos mudar. Assim, não nos arriscamos, mas tb não ganhamos nada. Não queremos sofrer e tampouco nos permitimos estar felizes, vivendo as emoções e surpresas de cada dia bem vivido.
É essa matemática do medo e da fuga que faz a vida de alguns de nós ser sempre a mesma coisa, terminar como começou. É essa mesma mágica que explica porque uns saem de condições adversas pra outras onde tudo é diferente. O desafio é ser pró-ativo, é fazer acontecer, não importa o tamanho do dispêndio de energia, não importa se vc mora na rua (como aquele nordestino que passou em uma universidade conceituada após seis anos tentando o vestibular) ou em uma mansão, trabalha no lixão ou na Avenida Paulista, anda a pé ou de carrão.
Nesse ponto é que, talvez um dia, se vc se permitir, a agitação dê uma trégua e vc acorde com saudades, como a que você sente de um grande amigo que veio te visitar, e vc sabe q - logo, logo - ele estará partindo. Por causa disso, vc sofre de saudades antecipadas, mas não tem como se fundir com ele e ir junto, precisa apenas acalmar a dor da separação e aproveitar que ele está na sua frente.
Só que, se enxergar as coisas por esse ângulo, o da ação, talvez descubra que o tal amigo é você mesmo. E sentirá que não importa de quanto tempo disponha, mesmo que desligue TV e Internet, jamais terá tempo suficiente pra esgotar essa vontade de mergulhar em si msm, de matar essa saudade. Talvez nesse ponto vc descubra que o herói que sempre quis ser estava o tempo todo esperando que vc o visse, aí mesmo, onde vc nunca o procurou.
(Post: Nil)
terça-feira, 3 de março de 2009
É FÁCIL SER PESSIMISTA!
Longe de mim querer fazer aqui uma demonstração de auto-ajuda e/ou coisas do tipo... Estava um dia desses conversando com uma tia e me veio à mente a seguinte afirmação: “é fácil ser pessimista, difícil é ser otimista...” Depois me veio a idéia de escrever um texto com a intenção de demonstrar as razões psicológicas para veracidade dessa afirmação.
Pois bem, aqui vou eu começar minha tarefa... Primeiro queria fazer um exercício de visualização com você, caro leitor... Lembre-se agora de alguém que você considera pessimista... Lembrou? Quais as frases que essa pessoa costuma dizer? Quando espera por algo muito importante, como ela reage? E quando essa pessoa ou alguém não consegue êxito em algo, o que fala nosso (a) pessimista?
Por que é fácil, então, ser pessimista? O pessimista previne-se de uma futura frustração (e de uma futura alegria, acredito)... Quando ele finge ou acredita que não vai conseguir algo, ele não tem que dar satisfação a ninguém, ele não esperava nada mesmo... Demonstrando não acreditar que algo muito bom vai acontecer, ele fica na defensiva e ainda tem o troféu de após o “não acontecimento” do fato “não desejado”, ele ainda dá uma de profeta: “Eu não disse que não iria dar certo! Bem que eu avisei! E outras baboseiras de igual “desimportância”.
Uma vez identificado um pessimista, como previnir-se de sua influência nociva?
Eis aí a questão... Dependendo das doses de otimismo que você tem, você pode ou não ser infectado por esse mal. Mas antes de começar a exibir a minha lista de profilaxia para essa doença, pergunto: “Você quer realmente se previnir de uma ação pessimista? Você é corajoso (a)? Você é do tipo que se preocupa com o que os outros vão pensar de suas “derrotas”? Como anda sua auto-estima? Por que eu pergunto isso? Ah! Quero examinar as probabilidades de resistência e até de imunização para o tal pessimismo”.
Vamos lá, primeiro... se você quer previnir-se da influência de um pessimista, ligue a tecla “mute” do seu controle remoto mental e não escute o que ele fala, nem tente fazer leitura labial. Agora se você não tem coragem para acreditar em você e nem pra enfrentar os insignificantes fracassos... Isso é muito sério... Não sei nem o que dizer agora, acho que nem vou dizer nada mesmo... Só quero que você reflita: “Você realmente quer conquistar algo que você considera importante? Se quer mesmo, então corra todos os riscos”. Já disse, né! Difícil mesmo é ser otimista... “Dar a cara a tapa”, ser chamado de louco, de bobo... Mas esse é outro capítulo que vamos conversar depois... Queria lembrar de uma frase criada nos meus tempos áureos de pessimismo: “Ah! A esperança, essa força maldita que adia o sofrimento!”. Forte não é? Hoje não penso de forma tão radical assim, talvez a esperança faça algo mais do que adiar o sofrimento... Agora cabe a você leitor imaginar e acreditar o que a esperança pode proporcionar...
Postado por: Elaini
Pois bem, aqui vou eu começar minha tarefa... Primeiro queria fazer um exercício de visualização com você, caro leitor... Lembre-se agora de alguém que você considera pessimista... Lembrou? Quais as frases que essa pessoa costuma dizer? Quando espera por algo muito importante, como ela reage? E quando essa pessoa ou alguém não consegue êxito em algo, o que fala nosso (a) pessimista?
Por que é fácil, então, ser pessimista? O pessimista previne-se de uma futura frustração (e de uma futura alegria, acredito)... Quando ele finge ou acredita que não vai conseguir algo, ele não tem que dar satisfação a ninguém, ele não esperava nada mesmo... Demonstrando não acreditar que algo muito bom vai acontecer, ele fica na defensiva e ainda tem o troféu de após o “não acontecimento” do fato “não desejado”, ele ainda dá uma de profeta: “Eu não disse que não iria dar certo! Bem que eu avisei! E outras baboseiras de igual “desimportância”.
Uma vez identificado um pessimista, como previnir-se de sua influência nociva?
Eis aí a questão... Dependendo das doses de otimismo que você tem, você pode ou não ser infectado por esse mal. Mas antes de começar a exibir a minha lista de profilaxia para essa doença, pergunto: “Você quer realmente se previnir de uma ação pessimista? Você é corajoso (a)? Você é do tipo que se preocupa com o que os outros vão pensar de suas “derrotas”? Como anda sua auto-estima? Por que eu pergunto isso? Ah! Quero examinar as probabilidades de resistência e até de imunização para o tal pessimismo”.
Vamos lá, primeiro... se você quer previnir-se da influência de um pessimista, ligue a tecla “mute” do seu controle remoto mental e não escute o que ele fala, nem tente fazer leitura labial. Agora se você não tem coragem para acreditar em você e nem pra enfrentar os insignificantes fracassos... Isso é muito sério... Não sei nem o que dizer agora, acho que nem vou dizer nada mesmo... Só quero que você reflita: “Você realmente quer conquistar algo que você considera importante? Se quer mesmo, então corra todos os riscos”. Já disse, né! Difícil mesmo é ser otimista... “Dar a cara a tapa”, ser chamado de louco, de bobo... Mas esse é outro capítulo que vamos conversar depois... Queria lembrar de uma frase criada nos meus tempos áureos de pessimismo: “Ah! A esperança, essa força maldita que adia o sofrimento!”. Forte não é? Hoje não penso de forma tão radical assim, talvez a esperança faça algo mais do que adiar o sofrimento... Agora cabe a você leitor imaginar e acreditar o que a esperança pode proporcionar...
Postado por: Elaini
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Ainda Voltaire....
Finalmente, um texto de Lau, com sua doce dureza, explorando as almas dos seus amigos sem alarde, descobrindo seus maiores medos e vícios, mostrando-os sem causar mágoa nenhuma. Um convite à compreensão maior de si mesmo e dos outros.
Nos acompanhe nessa viagem ao mundo do iluminista.
Nos acompanhe nessa viagem ao mundo do iluminista.
Voltaire e o Filósofo Ignorante.
“...e é preciso que eu esmole o meu pão antes que possa ganhá-lo; nada disso poderia ser de outro modo.”
Em que momento do Universo Deus decidiu nossas vidas, sem sequer nos consultar? Foi assim então? Como em uma tacada de mestre lançou-se à existência tudo que está posto, e nossas vidas são um reflexos sublime dos perfeitos planos de Deus. Um mundo tão perfeito quanto ele pode ser, com um mal certo para cada um de nós, na medida das nossas necessidades, em razão de um bem que se construirá pela Providência.
Compreender o mundo e o arranjo do Universo é o maior desafio científico-filosófico da humanidade. Sempre existiram mentes dispostas a abandonar seus corpos e adentrarem numa vida de sacrifícios rumo ao desconhecido “tempo e espaço”. Tão belos sentimentos humanos, no entanto, são exigentes. A filosofia requer tempo, e o tempo é cada vez mais curto desde que a Revolução Industrial chegou ao mundo e o caminho mais curto tornou-se “o produto que vende mais”.
Entender “a mente” por trás do Todo e apaziguar o fogo da curiosidade com as respostas certas que permitem o sono tranqüilo, a família perfeita, a casa em ordem e o domingo na poltrona da sala. É esse o jeito mais fácil de vender a vida, é essa a idéia por trás do véu sutil, a conclusão que levou muitos de nós a acreditar que “paz de espírito” se encontra ao desligar o celular e ter uma semana de férias no litoral; ou mesmo em ir mais um domingo a missa e esperar, com o terço na mão, pelo emprego do marido, que não para de beber pelo alcoolismo.
A grande tentação que bate a porta de todos os homens em algum momento de suas vidas é trazida pelo pensamento de que ele encontrou todas as respostas e transformou-se em um sábio e amoroso homem por ter aprendido a suportar e compreender que as diferenças entre sua vida e a do mendigo na rua estão nas equações desconhecidas que sustentam as super-cordas que entrelaçam o Universo. Ciência suficiente para ocupar todo o tempo que o homem comum dedica e estar consigo mesmo.
Que tipo de criaturas somos nós, que precisamos tanto duvidar e não suportamos viver duvidando? Voltaire toca a alma do homem comum e devolve o “sábio filósofo” a seu verdadeiro lugar, a ignorância. O Cândido é um chamado ao trabalho pelo bem, que não pode ser encontrado naturalmente, apenas com o tempo a passar por sobre o mundo, e o homem a esperar um fruto amadurecer, vindo o seu azedo a transformar-se em doce.
Qual de nós ainda não foi um “sábio filósofo”? Quem não quis comprar as respostas em um único livro ou em uma religião? Quem não desejou ter o coração tranqüilo e conformado na tragédia sua ou do próximo? A certeza de que o bem precisa ser cultivado e cuidado é o grande desafio oferecido pela leitura da obra e pela realidade do mundo. É preciso fugir das certezas e deixar a sabedoria de Pangloss, adentrar no mundo desconhecido e provar a fé vivendo o resto dos dias na dúvida.
Em que momento do Universo Deus decidiu nossas vidas, sem sequer nos consultar? Foi assim então? Como em uma tacada de mestre lançou-se à existência tudo que está posto, e nossas vidas são um reflexos sublime dos perfeitos planos de Deus. Um mundo tão perfeito quanto ele pode ser, com um mal certo para cada um de nós, na medida das nossas necessidades, em razão de um bem que se construirá pela Providência.
Compreender o mundo e o arranjo do Universo é o maior desafio científico-filosófico da humanidade. Sempre existiram mentes dispostas a abandonar seus corpos e adentrarem numa vida de sacrifícios rumo ao desconhecido “tempo e espaço”. Tão belos sentimentos humanos, no entanto, são exigentes. A filosofia requer tempo, e o tempo é cada vez mais curto desde que a Revolução Industrial chegou ao mundo e o caminho mais curto tornou-se “o produto que vende mais”.
Entender “a mente” por trás do Todo e apaziguar o fogo da curiosidade com as respostas certas que permitem o sono tranqüilo, a família perfeita, a casa em ordem e o domingo na poltrona da sala. É esse o jeito mais fácil de vender a vida, é essa a idéia por trás do véu sutil, a conclusão que levou muitos de nós a acreditar que “paz de espírito” se encontra ao desligar o celular e ter uma semana de férias no litoral; ou mesmo em ir mais um domingo a missa e esperar, com o terço na mão, pelo emprego do marido, que não para de beber pelo alcoolismo.
A grande tentação que bate a porta de todos os homens em algum momento de suas vidas é trazida pelo pensamento de que ele encontrou todas as respostas e transformou-se em um sábio e amoroso homem por ter aprendido a suportar e compreender que as diferenças entre sua vida e a do mendigo na rua estão nas equações desconhecidas que sustentam as super-cordas que entrelaçam o Universo. Ciência suficiente para ocupar todo o tempo que o homem comum dedica e estar consigo mesmo.
Que tipo de criaturas somos nós, que precisamos tanto duvidar e não suportamos viver duvidando? Voltaire toca a alma do homem comum e devolve o “sábio filósofo” a seu verdadeiro lugar, a ignorância. O Cândido é um chamado ao trabalho pelo bem, que não pode ser encontrado naturalmente, apenas com o tempo a passar por sobre o mundo, e o homem a esperar um fruto amadurecer, vindo o seu azedo a transformar-se em doce.
Qual de nós ainda não foi um “sábio filósofo”? Quem não quis comprar as respostas em um único livro ou em uma religião? Quem não desejou ter o coração tranqüilo e conformado na tragédia sua ou do próximo? A certeza de que o bem precisa ser cultivado e cuidado é o grande desafio oferecido pela leitura da obra e pela realidade do mundo. É preciso fugir das certezas e deixar a sabedoria de Pangloss, adentrar no mundo desconhecido e provar a fé vivendo o resto dos dias na dúvida.
sábado, 7 de fevereiro de 2009
UMA TEMPESTADE HÁ 2MIL ANOS
Volte dois mil anos atrás e imagine:
Você mora desde a infância em sua pequena aldeia de pescadores e a cada sol precisa cuidar do que viver e do que vestir com suor do rosto nas redes de pesca sobre o Mar da Galileia. Os dias são de fato bem previsíveis e a aldeia não é das mais prosperas, pois há miséria e doença há poucos metros de sua modesta casa. A pesca não lhe trouxe muito lucro, mas ainda consegue prover um mínimo para que sua família desconheça dessa miséria. Mas hoje você não vai ao mar, porque conhece o céu e os ventos o suficiente para prever a grande tempestade que se aproxima. Então você decidiu ficar em casa e consertar umas das redes mais velhas, um trabalho que consumiu toda a manhã e agora avançava para a tarde... foi quando as primeiras gotas da chuva começaram a marcar a areia e uma blasfêmia se formou em sua boca, ao cortar o dedo no manejo com a rede. De súbito, você ouve o rebuliço de uma multidão que se aproxima em risos e canto – a coisa mais estranha para uma aldeia que há muito não tinha o que celebrar. Contudo a sua indignação e mesmo o modo como enfaticamente iria praguejar do seu pequeno corte, cederam rapidamente diante de uma inusitada sensação de paz e jubilo.. Em sua surpresa, mesmo o corte que ainda há pouco lhe sangrava o dedo parece ter cicatrizado. A multidão se aproxima e você reconhece o nome do rabi de que todos têm comentado: o homem que dá vida aos mortos e caminha sobre as águas na tempestade. Você reconhece outros pescadores que agora o seguem, mesmo coma família e pobreza, lá estão eles leves e prazenteiros caminhando ao lado do rabi. Uma série perguntas lhe faz abandonar a lida: “E por que não você? E por que não descobrir como se reanima os mortos e se acalma o mar? E por que não reter aquela paz pelo resto dos dias? Por que não cicatrizar os cortes mais profundos em seu coração?” Sim, você poderia. E você espera pacientemente com a multidão feita de sábios, pescadores, mendigos, nobres e prostitutas (que vc reconhecia também!), todos sobre a mesma chuva, do lado de fora da pequena cabana .. a cabana recentemente erguida com muito esforço por uma senhora, que trabalhava para calar a miséria que tantas vezes lhe doía os olhos.. a cabana em que o rabi curava e ensinava.. Você espera a chance de dizer ao Mestre o excelente discípulo que você poderia ser, porque ao contrario de muitos outros pescadores ignorantes e braçais, você consegue ler as escrituras de Ezequiel e escreve razoavelmente; seu pai sempre se orgulhava do tom que sua voz adquiria nessas leituras e até mesmo de sua pequena sabedoria ao se atrever a interpretá-las.. E quantas noites ao redor da fogueira já não testemunharam a filosofia intrincada de seus discursos aos amigos que não ousavam rebater seu raciocínio precioso e que gostavam de reunião feita de um bom peixe ? – você sabe o quanto é bom ser idolatrado! Ah!! Você era o homem certo para ser o predileto do rabi! Então chegou finalmente o momento em que você ensopado, mas com discurso decorado, se apresentaria ao Galileu. Foi bem desconcertante. Você não estava preparado para a força que havia nos olhos do rabi, o tipo de força que lhe envergonhou de suas miudices, diante da qual seria um absurdo a tentativa de qualquer mentira ou a violência. Já tinha visto reis e imperadores, mas jamais sonhara que tamanha realeza fosse sustentada por um simples olhar do homem que calçava sandálias mais humildes que as suas. E ainda assim você falou:
- Mestre, ouvi suas pregações e vi suas curas, não desconheço que o é eleito pelas escrituras e venho aqui humildemente oferecer meus serviços ao apostolado.
O nazareno o encarou com seu olhar límpido e falou com tranqüilidade:
- Pois bem, temos dois leprosos agonizando aos cuidados da senhora desta cabana, poderia ajuda-la na troca de curativos e prove-los de comida e atenção?
Leprosos!! – foi o que pensou – nesta cabana? E tão próximos de minha casa? Como essa mulher conseguiu conceber tamanha loucura? Deve estar possuída...
Antes de completar os pensamentos, o rabi lhe interpelou o raciocínio:
- E o que me diz de cuidar do ensino e do sustento dessas duas órfãs cegas que a mesma senhora acolheu com tanto sacrifício?
As duas meninas? Ah!! Você sabe que são filhas das prostitutas da aldeia vizinha, duas inuteis na vida, já nasceram cegas como castigo para libertinagem das mães e assim tem o que merecem– e você pensa nisso mesmo que algo lhe machuque o coração, pois poderia até jurar que uma das meninas tem olhos como os seus..
O Mestre com a mesma calma lhe interfere novamente os pensamentos com um terceiro convite:
- E o que acha de ceder algumas horas de teu dia para o conserto do teto desta cabana que serve de lar para teus irmãos em miséria?
Ajeitar o telhado daquela cabana?Com certeza o mestre é um brincalhão, pois ele bem sabe que meu tempo é curto, que meus esforços seriam melhor empregados no estudo filosófico para e divulgação de sua palavra ou mesmo traduzindo-a para a forma escrita a fim de pudesse ser o embaixador da boa nova junto aos reis e ao grandes mestres.
O mestre sorriu tristemente como quem lhe adivinhava o íntimo e disse:
- Uma vez fiz o seguinte convite para um mancebo rico e inteligente – Se queres apefeiçoar-te, vai vende tudo o que tens, tudo entregando aos pobres, e terás um tesouro nos céus... Feito isso vem e segue-me... mas ele se afastou muito triste. O que faz aquele mancebo tão diferente de ti?....
Agora pause a historia, volte ao século XXI. Você já não é mais o pescador, você é hoje o medico cheio de titulos, jornalista premiado, juiz renomado ou advogado famoso, tua aldeia não é mais feita de pedra e barro, mas de asfalto e concreto; você não tem mais que se preocupar com o remendo das redes, com a tempestade ou o sucesso da pesca, você tem impostos para pagar, um carro para comprar, um concurso a mais para conquistar, uma residência medica para disputar; você já não luta com os segredos da escritura, você desvenda os mistérios do universo com a ciência moderna, você se extasia com a filosofia antiga ou moderna... mas ao lado da cama repousa o Evangelho de tua infância e nele as palavras – Feito isso, vem e segue-me... E agora? Você consegue divisar a atual cabana da senhora em que Cristo trabalhava? O que você pensará se o rabino lhe repetir os mesmos convites de trabalho na cabana sobre a tempestade? Prove que tua filosofia te explicou sobre o que realmente importa ao Mestre?
Sempre penso nessa historia (inspirada nos textos do Irmão X)em todas as manhã diante do espelho e me pergunto se aquele dia que se inicia será finalmente diferente do que foi há 2mil anos sobre tempestade....
-
Você mora desde a infância em sua pequena aldeia de pescadores e a cada sol precisa cuidar do que viver e do que vestir com suor do rosto nas redes de pesca sobre o Mar da Galileia. Os dias são de fato bem previsíveis e a aldeia não é das mais prosperas, pois há miséria e doença há poucos metros de sua modesta casa. A pesca não lhe trouxe muito lucro, mas ainda consegue prover um mínimo para que sua família desconheça dessa miséria. Mas hoje você não vai ao mar, porque conhece o céu e os ventos o suficiente para prever a grande tempestade que se aproxima. Então você decidiu ficar em casa e consertar umas das redes mais velhas, um trabalho que consumiu toda a manhã e agora avançava para a tarde... foi quando as primeiras gotas da chuva começaram a marcar a areia e uma blasfêmia se formou em sua boca, ao cortar o dedo no manejo com a rede. De súbito, você ouve o rebuliço de uma multidão que se aproxima em risos e canto – a coisa mais estranha para uma aldeia que há muito não tinha o que celebrar. Contudo a sua indignação e mesmo o modo como enfaticamente iria praguejar do seu pequeno corte, cederam rapidamente diante de uma inusitada sensação de paz e jubilo.. Em sua surpresa, mesmo o corte que ainda há pouco lhe sangrava o dedo parece ter cicatrizado. A multidão se aproxima e você reconhece o nome do rabi de que todos têm comentado: o homem que dá vida aos mortos e caminha sobre as águas na tempestade. Você reconhece outros pescadores que agora o seguem, mesmo coma família e pobreza, lá estão eles leves e prazenteiros caminhando ao lado do rabi. Uma série perguntas lhe faz abandonar a lida: “E por que não você? E por que não descobrir como se reanima os mortos e se acalma o mar? E por que não reter aquela paz pelo resto dos dias? Por que não cicatrizar os cortes mais profundos em seu coração?” Sim, você poderia. E você espera pacientemente com a multidão feita de sábios, pescadores, mendigos, nobres e prostitutas (que vc reconhecia também!), todos sobre a mesma chuva, do lado de fora da pequena cabana .. a cabana recentemente erguida com muito esforço por uma senhora, que trabalhava para calar a miséria que tantas vezes lhe doía os olhos.. a cabana em que o rabi curava e ensinava.. Você espera a chance de dizer ao Mestre o excelente discípulo que você poderia ser, porque ao contrario de muitos outros pescadores ignorantes e braçais, você consegue ler as escrituras de Ezequiel e escreve razoavelmente; seu pai sempre se orgulhava do tom que sua voz adquiria nessas leituras e até mesmo de sua pequena sabedoria ao se atrever a interpretá-las.. E quantas noites ao redor da fogueira já não testemunharam a filosofia intrincada de seus discursos aos amigos que não ousavam rebater seu raciocínio precioso e que gostavam de reunião feita de um bom peixe ? – você sabe o quanto é bom ser idolatrado! Ah!! Você era o homem certo para ser o predileto do rabi! Então chegou finalmente o momento em que você ensopado, mas com discurso decorado, se apresentaria ao Galileu. Foi bem desconcertante. Você não estava preparado para a força que havia nos olhos do rabi, o tipo de força que lhe envergonhou de suas miudices, diante da qual seria um absurdo a tentativa de qualquer mentira ou a violência. Já tinha visto reis e imperadores, mas jamais sonhara que tamanha realeza fosse sustentada por um simples olhar do homem que calçava sandálias mais humildes que as suas. E ainda assim você falou:
- Mestre, ouvi suas pregações e vi suas curas, não desconheço que o é eleito pelas escrituras e venho aqui humildemente oferecer meus serviços ao apostolado.
O nazareno o encarou com seu olhar límpido e falou com tranqüilidade:
- Pois bem, temos dois leprosos agonizando aos cuidados da senhora desta cabana, poderia ajuda-la na troca de curativos e prove-los de comida e atenção?
Leprosos!! – foi o que pensou – nesta cabana? E tão próximos de minha casa? Como essa mulher conseguiu conceber tamanha loucura? Deve estar possuída...
Antes de completar os pensamentos, o rabi lhe interpelou o raciocínio:
- E o que me diz de cuidar do ensino e do sustento dessas duas órfãs cegas que a mesma senhora acolheu com tanto sacrifício?
As duas meninas? Ah!! Você sabe que são filhas das prostitutas da aldeia vizinha, duas inuteis na vida, já nasceram cegas como castigo para libertinagem das mães e assim tem o que merecem– e você pensa nisso mesmo que algo lhe machuque o coração, pois poderia até jurar que uma das meninas tem olhos como os seus..
O Mestre com a mesma calma lhe interfere novamente os pensamentos com um terceiro convite:
- E o que acha de ceder algumas horas de teu dia para o conserto do teto desta cabana que serve de lar para teus irmãos em miséria?
Ajeitar o telhado daquela cabana?Com certeza o mestre é um brincalhão, pois ele bem sabe que meu tempo é curto, que meus esforços seriam melhor empregados no estudo filosófico para e divulgação de sua palavra ou mesmo traduzindo-a para a forma escrita a fim de pudesse ser o embaixador da boa nova junto aos reis e ao grandes mestres.
O mestre sorriu tristemente como quem lhe adivinhava o íntimo e disse:
- Uma vez fiz o seguinte convite para um mancebo rico e inteligente – Se queres apefeiçoar-te, vai vende tudo o que tens, tudo entregando aos pobres, e terás um tesouro nos céus... Feito isso vem e segue-me... mas ele se afastou muito triste. O que faz aquele mancebo tão diferente de ti?....
Agora pause a historia, volte ao século XXI. Você já não é mais o pescador, você é hoje o medico cheio de titulos, jornalista premiado, juiz renomado ou advogado famoso, tua aldeia não é mais feita de pedra e barro, mas de asfalto e concreto; você não tem mais que se preocupar com o remendo das redes, com a tempestade ou o sucesso da pesca, você tem impostos para pagar, um carro para comprar, um concurso a mais para conquistar, uma residência medica para disputar; você já não luta com os segredos da escritura, você desvenda os mistérios do universo com a ciência moderna, você se extasia com a filosofia antiga ou moderna... mas ao lado da cama repousa o Evangelho de tua infância e nele as palavras – Feito isso, vem e segue-me... E agora? Você consegue divisar a atual cabana da senhora em que Cristo trabalhava? O que você pensará se o rabino lhe repetir os mesmos convites de trabalho na cabana sobre a tempestade? Prove que tua filosofia te explicou sobre o que realmente importa ao Mestre?
Sempre penso nessa historia (inspirada nos textos do Irmão X)em todas as manhã diante do espelho e me pergunto se aquele dia que se inicia será finalmente diferente do que foi há 2mil anos sobre tempestade....
-
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Penso. Logo, desisto...
Esse negócio de pensar demais, em algumas ocasiões pode atrapalhar. Quer um exemplo? Qualquer pessoa q digite sem olhar para as teclas do computador sabe que, se ficar olhando demais, vai digitar mais devagar do que normalmente digitaria sem olhar...
Tem uma explicação científica pra isso. Eles dizem que ocorre um certo conflito de atribuições no cérebro. O córtex frontal, que é a parte que distribui e supervisiona as ordens, “briga” com os núcleos de base, responsáveis pelo “piloto automático”. Isso quer dizer que o cérebro, de alguma forma, memorizou onde se encontram as teclas e é capaz de localizá-las sem esforço, por automatismo. Por isso, se vc se força a pensar em onde está cada uma delas, só perde tempo, já que é o tipo de instrução dispensável para o piloto automático. É assim com os aprendizados seqüenciais, aqueles q muitas vezes memorizamos “sem saber”, e nem sequer pensamos que já aprendemos, simplesmente sabemos.
Me pergunto se isso tb não serve para outros aspectos da vida, como os conflitos existenciais típicos de quem dispõe do chamado ócio produtivo, como ilustra o diálogo abaixo:
nildene diz:
às vezes, vc lembra? a gente ficava discutindo a implicação do sexo dos anjos na reprodução das mariposas...
nildene diz:
e de acordo com as nossas conclusões nosso comportamento tinha q ser assim ou assado...se fosse de outra maneira era quase uma heresia
nildene diz:
uau! q peso!
Adriano diz:
vc tem razão sabe...
Adriano diz:
acho q estavamos tao entusiasmados com o nosso mundo, o q criamos
Adriano diz:
q deixamos de lado algumas coisas mais "terrenas"
Adriano diz:
q tb sao importantes
Quando li o Cândido, do Voltaire, por indicação do Lau, essa coisa de dispensar os “comandos” e deixar um pouco de lado o “sexo dos anjos” veio mais fortemente na minha cabeça... Pensar em cada aspecto da vida é realmente fundamental?
A história do Cândido é basicamente a de um rapaz crédulo que, inspirado no seu mestre Pangloss, acreditava que o mundo é “o melhor dos mundos possíveis”, uma crítica direta de Voltaire a Leibniz (que semelhança com a gente, heim, Adriano!). Depois de sofrer inúmeras desgraças, ser expulso do castelo onde morava, saber q sua amada foi estuprada e vendida como prostituta, ficar rico e depois na miséria, encontrar a querida Cunegundes balofa e acabada pelas agruras q passou e ainda assim casar com ela, Cândido passa a duvidar dessa visão otimista do mundo. Porém sua incredulidade não chega ao ponto de achar, como um amigo seu maniqueísta, que a vida é só um amontoado de desgraças q se sucedem. E assim, segue com esse grupo de esfomeados a debater o sentido da vida até encontrar um velho agricultor a quem pede opinião sobre o conflito. O agricultor responde apenas que não tem nada a ver com isso e que se preocupa apenas em cultivar sua terra, pois o trabalho, segundo ele, “afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade”.
No fim, os amigos de Cândido deixam o velho pra trás e continuam debatendo... até que Cândido, num acesso de bom senso, diz: “tudo isso está muito bem, mas devemos cultivar nosso jardim.” ... Depois de muito especular, Cândido parece ter chegado à mesma conclusão do agricultor, sobre o tédio, o vício e a necessidade, só q por outro caminho. Se mais longo ou mais curto, quem sabe? Isso importa?
Quero crer q todos os caminhos são válidos e que cada um tem em si bom senso e livre-arbítrio suficientes pra perceber quando é hora de pensar e quando é hora de mandar toda a mentalização praquele lugar e simplesmente agir. Não estou aqui pra dar lições sobre isso. Só posso dizer que, quanto a mim, apesar de achar que tem horas q preciso msm parar pra pensar, resolvi q também não custa nada me entregar, de vez em quando, à hipnose de um bom projeto de trabalho ou ao ócio improdutivo de dar boas gargalhadas vendo Mr. Bean. Tudo isso, enquanto deixo pro piloto automático a tarefa cansativa de resolver certos conflitos recorrentes, como deve ter feito o velho agricultor, ao surpreender Cândido com uma resposta sobre a qual ele ainda não tinha pensado. Esse é meu desafio agora. Não espero respostas caídas do céu, mas por quê não desviar o foco, deixando que novos olhares surpreendam velhos problemas?
sábado, 31 de janeiro de 2009
O Cândido
Numa nova leitura, enfrentamos os percalços e perigos de ler o iluminista Voltaire, famoso pela personalidade contagiante e conflituosa, cuja sinceridade e crítica mordaz provocou a ira de governos e da Igreja, ao ponto de, em determinados momentos, nenhum país da Europa ser bastante seguro para preservar-lhe a vida...
Ao ler Cândido, nos encontramos tomados de espanto, verificando abismados não conhecer nada acerca de nossas próprias crenças e certezas, abraçando-as maquinalmente, sem questionarmos o porquê de fazê-lo. Nos acompanhe na produção dos novos textos, fruto desta reflexão e constatação de sermos possuidores da mais genuína ignorância, como sói apetecer aos que buscam a filosofia.
De início, um texto de JÔ, escrito ainda sob o impacto das últimas frases da obra. Lembre-se: seu comentário ou produção textual é importante para nós!!!!
Ao ler Cândido, nos encontramos tomados de espanto, verificando abismados não conhecer nada acerca de nossas próprias crenças e certezas, abraçando-as maquinalmente, sem questionarmos o porquê de fazê-lo. Nos acompanhe na produção dos novos textos, fruto desta reflexão e constatação de sermos possuidores da mais genuína ignorância, como sói apetecer aos que buscam a filosofia.
De início, um texto de JÔ, escrito ainda sob o impacto das últimas frases da obra. Lembre-se: seu comentário ou produção textual é importante para nós!!!!
Uma Incômoda Verdade
A vida é uma questão de escolhas... Não importa o que fazemos, estamos sempre separando, distinguindo, dividindo, escolhendo, numa eterna necessidade de reordenar nosso curso, como bússolas quebradas, tentando inutilmente apontar para o norte. Por uma questão de escolha, estou novamente acordada, às duas da manhã, na cozinha de minha casa, sozinha (?) com minhas lembranças e fantasmas. Eu já não havia prometido a mim mesma que nunca mais faria isso? Não pude me conter e me censuro, enquanto juro (outra vez) que nunca mais farei isso de novo.
Houve um tempo em que eu acreditava que tudo é possível realizar, quando se deseja realmente que aconteça algo, ainda que toda a lógica, toda a realidade apontem que não, não é possível realizar tudo o que desejamos. Hoje acredito que há momentos em que temos de escolher se aceitamos ou não as oportunidades que a vida oferece; se escolhemos aceitar, a vida nos conduz por um caminho “x” e se não encaramos a chance oferecida, mudamos totalmente o rumo do caminho e já não podemos reclamar da oportunidade desperdiçada, ainda que vejamos pessoas menos preparadas que nós aceitando os desafios dos quais declinamos e, por puro instinto, encontrando portas e saídas que nós não teríamos escolhido, simplesmente por utilizar como instrumental a lógica e o raciocínio filosófico.
Então me pergunto, e daí? É possível que sejamos egoístas ao ponto de desejarmos que ninguém agarre a oportunidade que desperdiçamos, simplesmente porque nos achamos melhores e mais capazes de desempenhar o trabalho recusado? E mais, se a Vida nos ofereceu uma chance e a desprezamos, poderá esta chance ser negada a alguém desprovido de conhecimento, mas imbuído de boa vontade, ainda que ignorante?
Não, mil vezes não, a ignorância subjaz em todos os campos de oportunidades, mas somente avança quando a luz do conhecimento se enche de pedantismo e escolhe não agir, engolfando as necessidades da Vida numa busca pela ação. Então, se o sábio não caminha, levando à frente a sua luz, o ignorante o faz na escuridão, tropeçando entre as pedras da estrada, feliz com a oportunidade oferecida, sobejo da petulância do sábio que, apesar de conduzir a lanterna, se recusou a seguir caminho.
Quando Voltaire escreveu Cândido, creio haver desejado demonstrar que a vida é uma questão de escolhas mas, também, de conseqüências. E o mundo não é um lugar bonzinho; cada vez que escolhemos ver o lado bom das coisas, desprezando a ordem brutal do mundo para valorizar meias verdades sobre a conformação e harmonia do cosmos, vem a Vida dá-nos uma boa rasteira. Resta-nos, do chão, observar a vida por outro ângulo, o ângulo dos que estão por baixo.
Hoje me vejo sob essa perspectiva, a do caído. Rasteira da Vida tomada, olho ao meu redor e procuro pelos companheiros, com quem aprendi o amor pela ciência e pela filosofia. Procuro, mas estou cercada pela ignorância ingênua, cheia de boa vontade, mas, mesmo assim, é ignorância. Todos os outros se foram com suas lanternas de Diógenes, em busca de respostas. Porque eu fiquei? Porque não escolhi seguir? Se me ressinto da ignorância é porque a conheço, ou será que apenas ainda consigo distinguir meus instintos? Se reconheço minha ação por instinto sou mais ignorante que filósofa, mas então, porque me ressinto?
Sou Cândido! Julgo conhecer a filosofia, senti-la, seguir um mestre, mas não reconheço a sua excelência ou deixei de crer em sua ciência, desde o momento em que me vi caminhando sozinha, longe dos meus iguais. Pergunto-me: caminhei, ou fiquei para traz? Estou à frente ou em sua retaguarda? Meu eu Cândido está perdido, tem girado o mundo das idéias em busca de uma felicidade e harmonia quiméricas que, à maneira das miragens de um deserto, desaparecem às vezes em que julgo estar quase as alcançando.
Eis as conseqüências de escolher ficar: caminhar entre a ignorância e a ânsia de saber. Aterrar-me com as reações instintivas dos que restaram comigo, cegos como eu, tateando os pedrouços da estrada, esperançosos de encontrar a luz. E como para dar-me forças na marcha, me vem à mente Sócrates, cercado de sofistas, cujos amigos eram ouvintes vacilantes, Jesus cercado de fariseus e outros asseclas, cujos amigos eram discípulos ignorantes e desprovidos de fé, Madre Teresa, cercada de Indus fanáticos, cujos amigos eram a gente simples e ignorante das favelas de Calcutá... Diante deles, quem sou eu pra reclamar de quem segue comigo?
Candido tinha como aliados uma velha, um escravo liberto e um mestre amargurado com suas próprias decepções; eu me pergunto: é necessário que nos aliemos a alguém? Não bastará fortaleza de espírito para sermos fiéis às nossas escolhas e conscientes de suas conseqüências?
Duro é olhar ao redor e se descobrir cercado de medo e de constatações de que pensamos saber milhões de coisas, mas esquecemos de cuidar do nosso pobre jardim enquanto ele morre de sede à espera do labor de nossas mãos.
Houve um tempo em que eu acreditava que tudo é possível realizar, quando se deseja realmente que aconteça algo, ainda que toda a lógica, toda a realidade apontem que não, não é possível realizar tudo o que desejamos. Hoje acredito que há momentos em que temos de escolher se aceitamos ou não as oportunidades que a vida oferece; se escolhemos aceitar, a vida nos conduz por um caminho “x” e se não encaramos a chance oferecida, mudamos totalmente o rumo do caminho e já não podemos reclamar da oportunidade desperdiçada, ainda que vejamos pessoas menos preparadas que nós aceitando os desafios dos quais declinamos e, por puro instinto, encontrando portas e saídas que nós não teríamos escolhido, simplesmente por utilizar como instrumental a lógica e o raciocínio filosófico.
Então me pergunto, e daí? É possível que sejamos egoístas ao ponto de desejarmos que ninguém agarre a oportunidade que desperdiçamos, simplesmente porque nos achamos melhores e mais capazes de desempenhar o trabalho recusado? E mais, se a Vida nos ofereceu uma chance e a desprezamos, poderá esta chance ser negada a alguém desprovido de conhecimento, mas imbuído de boa vontade, ainda que ignorante?
Não, mil vezes não, a ignorância subjaz em todos os campos de oportunidades, mas somente avança quando a luz do conhecimento se enche de pedantismo e escolhe não agir, engolfando as necessidades da Vida numa busca pela ação. Então, se o sábio não caminha, levando à frente a sua luz, o ignorante o faz na escuridão, tropeçando entre as pedras da estrada, feliz com a oportunidade oferecida, sobejo da petulância do sábio que, apesar de conduzir a lanterna, se recusou a seguir caminho.
Quando Voltaire escreveu Cândido, creio haver desejado demonstrar que a vida é uma questão de escolhas mas, também, de conseqüências. E o mundo não é um lugar bonzinho; cada vez que escolhemos ver o lado bom das coisas, desprezando a ordem brutal do mundo para valorizar meias verdades sobre a conformação e harmonia do cosmos, vem a Vida dá-nos uma boa rasteira. Resta-nos, do chão, observar a vida por outro ângulo, o ângulo dos que estão por baixo.
Hoje me vejo sob essa perspectiva, a do caído. Rasteira da Vida tomada, olho ao meu redor e procuro pelos companheiros, com quem aprendi o amor pela ciência e pela filosofia. Procuro, mas estou cercada pela ignorância ingênua, cheia de boa vontade, mas, mesmo assim, é ignorância. Todos os outros se foram com suas lanternas de Diógenes, em busca de respostas. Porque eu fiquei? Porque não escolhi seguir? Se me ressinto da ignorância é porque a conheço, ou será que apenas ainda consigo distinguir meus instintos? Se reconheço minha ação por instinto sou mais ignorante que filósofa, mas então, porque me ressinto?
Sou Cândido! Julgo conhecer a filosofia, senti-la, seguir um mestre, mas não reconheço a sua excelência ou deixei de crer em sua ciência, desde o momento em que me vi caminhando sozinha, longe dos meus iguais. Pergunto-me: caminhei, ou fiquei para traz? Estou à frente ou em sua retaguarda? Meu eu Cândido está perdido, tem girado o mundo das idéias em busca de uma felicidade e harmonia quiméricas que, à maneira das miragens de um deserto, desaparecem às vezes em que julgo estar quase as alcançando.
Eis as conseqüências de escolher ficar: caminhar entre a ignorância e a ânsia de saber. Aterrar-me com as reações instintivas dos que restaram comigo, cegos como eu, tateando os pedrouços da estrada, esperançosos de encontrar a luz. E como para dar-me forças na marcha, me vem à mente Sócrates, cercado de sofistas, cujos amigos eram ouvintes vacilantes, Jesus cercado de fariseus e outros asseclas, cujos amigos eram discípulos ignorantes e desprovidos de fé, Madre Teresa, cercada de Indus fanáticos, cujos amigos eram a gente simples e ignorante das favelas de Calcutá... Diante deles, quem sou eu pra reclamar de quem segue comigo?
Candido tinha como aliados uma velha, um escravo liberto e um mestre amargurado com suas próprias decepções; eu me pergunto: é necessário que nos aliemos a alguém? Não bastará fortaleza de espírito para sermos fiéis às nossas escolhas e conscientes de suas conseqüências?
Duro é olhar ao redor e se descobrir cercado de medo e de constatações de que pensamos saber milhões de coisas, mas esquecemos de cuidar do nosso pobre jardim enquanto ele morre de sede à espera do labor de nossas mãos.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Amoroso dilema
“Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão,
continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um." (Fernando Pessoa)
Era a primeira vez que passava tanto tempo sem namorada. Também era a primeira vez que ficava assim por opção. Precisava descontrair e parar para pensar um pouco depois do último relacionamento, que além de destrutivo estava provocando uma verdadeira reviravolta no seu jeito de encarar o amor.
Pela milésima vez, se perguntou se não era mais feliz quando acreditava, sem vacilar, que dava pra encontrar alguém com quem podia passar o resto da vida. A questão é que suas convicções estavam abaladas. Desde o início da adolescência pensava q essa proposta de vida a dois duradoura se cultivava ao longo dos anos por um ato de vontade, uma vez definida uma pessoa como parceira. Mas nem tudo era assim tão lógico ou simples.
Os casais que observava e suas próprias experiências amorosas pareciam contradizer essas certezas. Com raras exceções, e ele não se incluía entre elas, ou os casais se traiam mutuamente, ou continuavam a viver como se estivessem eternamente procurando parceira(o), por mais que já tivessem alguém ali do lado. Mas, será que haviam escolhido realmente aquela pessoa? Será q um dia escolheriam? Perguntava-se também o que tanto buscavam? Quando dariam a caça por encerrada? Não estariam procurando mundo afora sem buscar em si mesmas?
Há algum tempo, ele mesmo havia dito a uma pessoa “vc é quem eu mais amo no mundo”, como se não pudesse viver de outra forma, como se sua felicidade dependesse exclusivamente de alguém ou algo que não ele mesmo. Depois dessa solidão auto-imposta, não conseguia mais comparar o amor que sentia pelas pessoas, não dava mais para hierarquizar e era mais feliz agora.
Mesmo com toda essa confusão, ainda sentia, estranhamente, q se tivesse de escolher uma só pessoa pra viver com ela pra sempre nessa vida, várias candidatas entre suas melhores amigas seriam ideais, em igual medida. E não é que tanto fazia, sentia genuíno afeto por algumas amigas mais próximas, um afeto que poderia ser facilmente aprofundado. No fundo, embora não quisesse admitir, ainda se inclinava a acreditar no poder da escolha e achava, pela primeira vez, que não estava interessado apenas no que podia receber das pessoas, mas também no que tinha a oferecer, não em termos de status ou coisas, mas fundamentalmente em termos de amor.
No entanto, se se decidisse por buscar um amor a dois pra toda a vida, se é q isso existia, com certeza teria problemas em encontrar alguém disposto a considerar como sério seu jeito incomum de encarar relacionamentos, seja vendo o amor como um ato de vontade e não-fortuito, seja como algo não inteiramente exclusivista.
É que, se por um lado, percebia pouquíssimas pessoas realmente dispostas a viver com um único outro ser ao longo da vida (elas estavam sempre em uma busca desenfreada por novidades vindas de fora e nunca delas mesmas); por outro lado, via ainda menos pessoas dispostas a vivenciar um amor que não restringisse a capacidade de amar da outra pessoa. No fim, quando acertava encontrar alguém interessado em experimentar o amor, normalmente ela entendia isso como “ame a mim somente, como jamais amou ou amará ninguém”.
O problema é que ele achava que cada pessoa que amava, amava de forma singular, incomparável. Também não acreditava mais em amar só uma pessoa por vez. Não se tratava do clássico conceito de poligamia que as mulheres geralmente imputam aos homens. Não era isso o que propunha, porque entendia a fidelidade do corpo como fronteira mínima do respeito ao outro nesse arriscado experimentalismo.
Mas não via uma razão plausível para evitar estender o seu afeto às pessoas em volta. Na sua cabeça, amar dentro de uma redoma seria só um egoísmo ampliado, do tipo “onde cabia só um, agora cabem dois e basta!”. Mas, então, porque não caber mais gente? Por que não cabe aquela amiga, uma alma-irmã, q liga no meio da madrugada pedindo pra ajudá-la a sair de uma crise depressiva? Por que não cabe o amigo com quem se fez planos de cruzar a América Latina com uma mochila nas costas, mesmo q isso leve vários meses? Por que não cabe a amiga estrangeira por quem enfrentaria sete graus negativos e gastaria até o último vintém para ajudá-la, se ela precisasse?
Suportaria, por sua vez, que a parceira amasse tão livremente tantas pessoas quantas queria ser livre pra amar?
Ele achava que jamais encontraria alguém disposto a repensar um assunto que mexe tanto com o ego, ciúmes e posse. Por outro lado, estava um tanto deslumbrado com a conquista de permanecer tanto tempo só, sem achar isso necessariamente ruim.
Acontece que, por um estranho paradoxo, se mantinha ocupado de um problema que não sabia solucionar: como superar a solidão que queimava o peito no final da noite? E se o amor exclusivista fosse mesmo um dos únicos caminhos pra se chegar ao âmago de outro alguém? É que, entendia ele, se não fosse assim, a outra pessoa dificilmente abriria as portas para alguém chegar lá bem fundo no coração, por mais que ele próprio estivesse disposto a abrir o seu. Reconhecia a sensatez de Erich Fromm, quando dizia que “o desejo de fusão interpessoal é o mais poderoso anseio do homem”, e também quando ele falava da necessidade de reciprocidade, “o amor erótico, se é amor, tem uma premissa: que eu ame da essência de meu ser e experimente a outra pessoa na essência do seu ser.”
E sua cabeça era só dúvida: “será possível viver esse tipo de mergulho sem nos limitarmos a uma só pessoa? Ou, nos ligando a um só, será possível experimentar a outra pessoa na essência do seu ser sem o claustro da posse exclusiva do amor de parte a parte?”
(postado por: Griffin)
continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um." (Fernando Pessoa)
Era a primeira vez que passava tanto tempo sem namorada. Também era a primeira vez que ficava assim por opção. Precisava descontrair e parar para pensar um pouco depois do último relacionamento, que além de destrutivo estava provocando uma verdadeira reviravolta no seu jeito de encarar o amor.
Pela milésima vez, se perguntou se não era mais feliz quando acreditava, sem vacilar, que dava pra encontrar alguém com quem podia passar o resto da vida. A questão é que suas convicções estavam abaladas. Desde o início da adolescência pensava q essa proposta de vida a dois duradoura se cultivava ao longo dos anos por um ato de vontade, uma vez definida uma pessoa como parceira. Mas nem tudo era assim tão lógico ou simples.
Os casais que observava e suas próprias experiências amorosas pareciam contradizer essas certezas. Com raras exceções, e ele não se incluía entre elas, ou os casais se traiam mutuamente, ou continuavam a viver como se estivessem eternamente procurando parceira(o), por mais que já tivessem alguém ali do lado. Mas, será que haviam escolhido realmente aquela pessoa? Será q um dia escolheriam? Perguntava-se também o que tanto buscavam? Quando dariam a caça por encerrada? Não estariam procurando mundo afora sem buscar em si mesmas?
Há algum tempo, ele mesmo havia dito a uma pessoa “vc é quem eu mais amo no mundo”, como se não pudesse viver de outra forma, como se sua felicidade dependesse exclusivamente de alguém ou algo que não ele mesmo. Depois dessa solidão auto-imposta, não conseguia mais comparar o amor que sentia pelas pessoas, não dava mais para hierarquizar e era mais feliz agora.
Mesmo com toda essa confusão, ainda sentia, estranhamente, q se tivesse de escolher uma só pessoa pra viver com ela pra sempre nessa vida, várias candidatas entre suas melhores amigas seriam ideais, em igual medida. E não é que tanto fazia, sentia genuíno afeto por algumas amigas mais próximas, um afeto que poderia ser facilmente aprofundado. No fundo, embora não quisesse admitir, ainda se inclinava a acreditar no poder da escolha e achava, pela primeira vez, que não estava interessado apenas no que podia receber das pessoas, mas também no que tinha a oferecer, não em termos de status ou coisas, mas fundamentalmente em termos de amor.
No entanto, se se decidisse por buscar um amor a dois pra toda a vida, se é q isso existia, com certeza teria problemas em encontrar alguém disposto a considerar como sério seu jeito incomum de encarar relacionamentos, seja vendo o amor como um ato de vontade e não-fortuito, seja como algo não inteiramente exclusivista.
É que, se por um lado, percebia pouquíssimas pessoas realmente dispostas a viver com um único outro ser ao longo da vida (elas estavam sempre em uma busca desenfreada por novidades vindas de fora e nunca delas mesmas); por outro lado, via ainda menos pessoas dispostas a vivenciar um amor que não restringisse a capacidade de amar da outra pessoa. No fim, quando acertava encontrar alguém interessado em experimentar o amor, normalmente ela entendia isso como “ame a mim somente, como jamais amou ou amará ninguém”.
O problema é que ele achava que cada pessoa que amava, amava de forma singular, incomparável. Também não acreditava mais em amar só uma pessoa por vez. Não se tratava do clássico conceito de poligamia que as mulheres geralmente imputam aos homens. Não era isso o que propunha, porque entendia a fidelidade do corpo como fronteira mínima do respeito ao outro nesse arriscado experimentalismo.
Mas não via uma razão plausível para evitar estender o seu afeto às pessoas em volta. Na sua cabeça, amar dentro de uma redoma seria só um egoísmo ampliado, do tipo “onde cabia só um, agora cabem dois e basta!”. Mas, então, porque não caber mais gente? Por que não cabe aquela amiga, uma alma-irmã, q liga no meio da madrugada pedindo pra ajudá-la a sair de uma crise depressiva? Por que não cabe o amigo com quem se fez planos de cruzar a América Latina com uma mochila nas costas, mesmo q isso leve vários meses? Por que não cabe a amiga estrangeira por quem enfrentaria sete graus negativos e gastaria até o último vintém para ajudá-la, se ela precisasse?
Suportaria, por sua vez, que a parceira amasse tão livremente tantas pessoas quantas queria ser livre pra amar?
Ele achava que jamais encontraria alguém disposto a repensar um assunto que mexe tanto com o ego, ciúmes e posse. Por outro lado, estava um tanto deslumbrado com a conquista de permanecer tanto tempo só, sem achar isso necessariamente ruim.
Acontece que, por um estranho paradoxo, se mantinha ocupado de um problema que não sabia solucionar: como superar a solidão que queimava o peito no final da noite? E se o amor exclusivista fosse mesmo um dos únicos caminhos pra se chegar ao âmago de outro alguém? É que, entendia ele, se não fosse assim, a outra pessoa dificilmente abriria as portas para alguém chegar lá bem fundo no coração, por mais que ele próprio estivesse disposto a abrir o seu. Reconhecia a sensatez de Erich Fromm, quando dizia que “o desejo de fusão interpessoal é o mais poderoso anseio do homem”, e também quando ele falava da necessidade de reciprocidade, “o amor erótico, se é amor, tem uma premissa: que eu ame da essência de meu ser e experimente a outra pessoa na essência do seu ser.”
E sua cabeça era só dúvida: “será possível viver esse tipo de mergulho sem nos limitarmos a uma só pessoa? Ou, nos ligando a um só, será possível experimentar a outra pessoa na essência do seu ser sem o claustro da posse exclusiva do amor de parte a parte?”
(postado por: Griffin)
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Mais do amor...
O texto abaixo é de JÔ e é fruto de inúmeros diálogos com amigos queridos acerca do aprendizado da autonomia, do descobrir-se onde termina o amor próprio e começa o egoísmo, da questão do utilitarismo presente nas relações duradouras.... Enfim, mazelas e virtudes do casamento, partindo-se da premissa de que o amor está acima de tais questionamentos.
Você também pode participar! Comente, traga seu texto, acrescente!!!!
Você também pode participar! Comente, traga seu texto, acrescente!!!!
Por amor a Sócrates
Dentre as personagens que rondam o imaginário humano acerca do grande filósofo Sócrates uma há que é comicamente tratada ao longo dos séculos: Xantipa. Diz-se que foi uma das esposas do filósofo, célebre pelo mau humor e antipatia, de caráter irascível e escandaloso, entrou para a história como uma megera que estava sempre a censurar o marido e tratá-lo pessimamente, sobretudo em público; Conta-se que lhe rasgava a túnica na via pública ou lhe jogava água às vestes, a fim de forçá-lo a tirá-las...
Francamente, se alguém sabe de algo realmente simpático acerca de Xantipa, por favor, traga a público, pois estou farta de ler acerca das péssimas atitudes dessa mulher! Xantipa era uma esposa; agora eu lhes pergunto: o que esperar de uma esposa? O que espera um homem de sua esposa ao se casar? Pois é certo que Sócrates conhecia os deveres que se esperava que uma esposa cumprisse.
De uma esposa à época de Sócrates, um marido exigia que se dedicasse a casa e à geração dos filhos, que estivesse satisfeita com o que o marido desejasse fazer da vida, que não se importasse com o fato de que o marido vivesse na Agora discutindo política, filosofia, arte, etc. Hoje se espera muito mais de uma mulher! Que seja boa mãe, boa cozinheira, profissional bem sucedida, linda e magra, uma fera nos negócios e uma criatura indomável e insaciável na cama, não necessariamente nessa ordem.
E Xantipa, alguém por acaso parou para imaginar o que esperava ela de seu marido, Sócrates? Se você é casada, sabe o que ela esperava... Sócrates provavelmente não era um bom marido, na opinião de Xantipa. Mal cheiroso, descalço e quase sempre vestido em uma túnica imunda, imagine um marido assim... Sócrates se vangloriava da sua condição de não apegado aos luxos e confortos, tinha uma vida frugal, evitava comer e beber quando não tinha fome ou sede.
Francamente, se alguém sabe de algo realmente simpático acerca de Xantipa, por favor, traga a público, pois estou farta de ler acerca das péssimas atitudes dessa mulher! Xantipa era uma esposa; agora eu lhes pergunto: o que esperar de uma esposa? O que espera um homem de sua esposa ao se casar? Pois é certo que Sócrates conhecia os deveres que se esperava que uma esposa cumprisse.
De uma esposa à época de Sócrates, um marido exigia que se dedicasse a casa e à geração dos filhos, que estivesse satisfeita com o que o marido desejasse fazer da vida, que não se importasse com o fato de que o marido vivesse na Agora discutindo política, filosofia, arte, etc. Hoje se espera muito mais de uma mulher! Que seja boa mãe, boa cozinheira, profissional bem sucedida, linda e magra, uma fera nos negócios e uma criatura indomável e insaciável na cama, não necessariamente nessa ordem.
E Xantipa, alguém por acaso parou para imaginar o que esperava ela de seu marido, Sócrates? Se você é casada, sabe o que ela esperava... Sócrates provavelmente não era um bom marido, na opinião de Xantipa. Mal cheiroso, descalço e quase sempre vestido em uma túnica imunda, imagine um marido assim... Sócrates se vangloriava da sua condição de não apegado aos luxos e confortos, tinha uma vida frugal, evitava comer e beber quando não tinha fome ou sede.
Se você está defendendo o desapego de Sócrates, seu desamor pelos bens materiais, sua superioridade moral que o permitia suportar uma esposa assim, me desculpe, você é um grande sofista! E só pensa assim porque não era você quem dormia ao lado de Sócrates, era Xantipa! Ademais, Sócrates admitia de bom grado um bom banho, roupas limpas e perfume, desde a ocasião valesse o esforço de encontrar cidadãos belos e limpos para um grande jantar, como ocorre na obra O Banquete, guardadas as devidas proporções, já que o texto é atribuído a Platão, mas creio que em algum momento ele tomava um banho de bom grado.
Mais que ser mulher de Sócrates, Xantipa foi submetida à vida austera e pobre do marido, à qual provavelmente não compreendia; se ele se alimentava frugalmente e não trabalhava, certamente sua família se alimenta mal, não tinham conforto e viviam de forma modesta, para não dizer miserável...
Mais que ser mulher de Sócrates, Xantipa foi submetida à vida austera e pobre do marido, à qual provavelmente não compreendia; se ele se alimentava frugalmente e não trabalhava, certamente sua família se alimenta mal, não tinham conforto e viviam de forma modesta, para não dizer miserável...
Não consigo deixar de imaginar... Tanto tempo dedicado à educação de jovens, tantos diálogos com nobres mentes do mundo grego... Que tempo Sócrates dedicava a Xantipa? É certo que Sócrates a amava; deixou claro isso várias vezes, há relatos acerca da tolerância e paciência com que suportava os achaques de sua mulher...
Infelizmente, não conheço relatos acerca da paciência de Xantipa para com Sócrates. Para mim, porém, ela está implícita nos muitos anos que viveram juntos. Acredito que Xantipa pudesse compreender melhor o marido se este a tivesse considerado mais que a genitora de sua prole, mais que a mulher geniosa, a quem ele apreciava domar com um potro selvagem, utilizando-se da ira dela para exercitar o próprio espírito.
Xantipa, ao que parece, não era apreciadora da vasta sabedoria de Sócrates, o que não quer dizer que não se importasse com ele. Posso imaginar a dor moral desta mulher, ao ver seu marido se tornar objeto de chacota entre os que o atacavam e que certamente não eram poucos. Daí se compreender porque Xantipa se via na obrigação de obrigar-lhe ao banho, à troca das vestes. Imagino também porque entrou para a história como uma megera. Foi descrita por homens, contemporâneos de Sócrates, que a viam como a intransigente criatura que lhe interrompia os discursos e o arrastava ao lar, obrigava-o à higiene, mostrava-lhe que havia um mundo fora das idéias.
Infelizmente, não conheço relatos acerca da paciência de Xantipa para com Sócrates. Para mim, porém, ela está implícita nos muitos anos que viveram juntos. Acredito que Xantipa pudesse compreender melhor o marido se este a tivesse considerado mais que a genitora de sua prole, mais que a mulher geniosa, a quem ele apreciava domar com um potro selvagem, utilizando-se da ira dela para exercitar o próprio espírito.
Xantipa, ao que parece, não era apreciadora da vasta sabedoria de Sócrates, o que não quer dizer que não se importasse com ele. Posso imaginar a dor moral desta mulher, ao ver seu marido se tornar objeto de chacota entre os que o atacavam e que certamente não eram poucos. Daí se compreender porque Xantipa se via na obrigação de obrigar-lhe ao banho, à troca das vestes. Imagino também porque entrou para a história como uma megera. Foi descrita por homens, contemporâneos de Sócrates, que a viam como a intransigente criatura que lhe interrompia os discursos e o arrastava ao lar, obrigava-o à higiene, mostrava-lhe que havia um mundo fora das idéias.
Quando Sócrates foi condenado à morte tomando cicuta, Xantipa foi a primeira pessoa a ser retirada do local onde ocorreria sua morte. Devido a um ataque histérico, foi socorrida e levada para longe do marido, que morreu placidamente ao lado de seus admiradores e amigos próximos. Ora, se Xantipa era tão irascível, porque então se desesperou com a morte de Sócrates?
Talvez porque só compreendesse o casamento como uma troca de favores, um sentimento prático e utilitarista a afastava dos ideais do marido. Teria ela, provavelmente, preferido ser casada com um homem comum, distante dos discursos e da histórica fama, desde que este homem lhe tivesse proporcionado uma vida menos cheia de privações materiais.
E afinal, não terá sido o amor de Sócrates utilitarista também? Não teria ele aproveitado tudo o que podia de sua relação com Xantipa, deixando-a entregue às suas preocupações materiais e vivendo acima das dores de que ela se queixava?
A maioria dos casamentos que conheço é assim. Uma troca constante de favores, em que os indivíduos sugam do outro aquilo que desejam, enquanto desejam, sem se importar em conhecer melhor o parceiro ou parceira. E quando ao longo dos anos de convivência finalmente se conhecem, bem poucos estão dispostos a aceitar o outro como é, sem tentar moldá-lo e transformá-lo ao seu bel prazer.
Talvez porque só compreendesse o casamento como uma troca de favores, um sentimento prático e utilitarista a afastava dos ideais do marido. Teria ela, provavelmente, preferido ser casada com um homem comum, distante dos discursos e da histórica fama, desde que este homem lhe tivesse proporcionado uma vida menos cheia de privações materiais.
E afinal, não terá sido o amor de Sócrates utilitarista também? Não teria ele aproveitado tudo o que podia de sua relação com Xantipa, deixando-a entregue às suas preocupações materiais e vivendo acima das dores de que ela se queixava?
A maioria dos casamentos que conheço é assim. Uma troca constante de favores, em que os indivíduos sugam do outro aquilo que desejam, enquanto desejam, sem se importar em conhecer melhor o parceiro ou parceira. E quando ao longo dos anos de convivência finalmente se conhecem, bem poucos estão dispostos a aceitar o outro como é, sem tentar moldá-lo e transformá-lo ao seu bel prazer.
Será que apenas Sócrates amou e aceitou Xantipa? O senso prático dela terá sido a ligação entre o amor ideal e o amor paixão, que alimentou por Sócrates, apesar de haver sofrido com o temperamento do marido?
Não importa se Xantipa entendeu ou não Sócrates. Importa compreender que o amor que dedicamos a outrem deve se basear na doação e na compreensão, que passa necessariamente pelo amor de si e pela capacidade de aceitar o outro como ele é. Não se pode amar a outrem mais que a si mesmo, confundindo a sublimidade da doação com a escravidão aos desejos e paixões de outrem, mesmo quando se é correspondido, sob pena de alimentar um vício perigoso: o egoísmo. Quem não ama a si mesmo é incapaz de amar alguém.
E como é difícil escolher de que lado ficar! É tão fácil julgar as aparências, o que parece ser bom, o que parecer ser mau... Sinto minha consciência digladiar-se entre estes dois pontos: amar verdadeiramente o melhor possível a uma pessoa ou amar o melhor possível a humanidade inteira? Seguir o exemplo de Sócrates ou assumir minha porção Xantipa?
E como é difícil escolher de que lado ficar! É tão fácil julgar as aparências, o que parece ser bom, o que parecer ser mau... Sinto minha consciência digladiar-se entre estes dois pontos: amar verdadeiramente o melhor possível a uma pessoa ou amar o melhor possível a humanidade inteira? Seguir o exemplo de Sócrates ou assumir minha porção Xantipa?
Ah, como desejamos que o mundo seja inteiramente dividido entre o bem e mau, o preto e o branco, o certo e o errado... Mas não! Não existe ninguém tão bom que não abrigue em seu peito o mau, nem tal mau que não abrigue em sua alma algum fragmento do bem. E as cores... Bem, no mundo, encontramos todas as cores do arco-íris, apesar de nossa limitada visão.
sábado, 3 de janeiro de 2009
Ainda sobre o amor...
O texto q segue é da Nil ainda resultando da leitura de O Banquete... Comente, recomende, a gente agradece! ;-)
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
Quando amar não dói
Conta-se que ele era só um adolescente quando seu pai morreu, deixando a família sem nenhuma fonte de renda. Teve de trabalhar para ajudar no sustento da mãe, da irmã e da avó. O sonho de ser escritor acabou adiado, em razão da urgência de entrar para a faculdade de medicina, que levava paralelamente à prática do jornalismo e das aulas particulares que ministrava.
Por afinidade com a educação, passou a freqüentar também o curso de pedagogia, tendo depois concluído os estudos de medicina e graduado-se em pediatria. Anos mais tarde, seu talento no trato com as crianças e seus conhecimentos como pedagogo lhe renderam a diretoria de um orfanato. Foi aí que se mostrou em todo esplendor o amor de Janusz Korczak pelas crianças. Um amor que o levou a ficar conhecido não só como médico ou escritor, mas como um dos grandes educadores do Séc. XX. Porém, não só isso. Esse polonês de origem judaica levou ao extremo seu amor pedagógico, ao morrer junto com os órfãos no campo de concentração nazista de Treblinka, após a invasão da Polônia pelo exército alemão, na Segunda Guerra Mundial.
Mas o que poderia ter levado um intelectual, um prático da educação como Korczak a esse ponto, já que anos antes teve a chance de sair do país? Isso equivale a perguntar de que matéria é feita a alma dos mártires. Uma pista está em uma das obras escritas por ele. Mais precisamente no livro “Como Amar uma Criança”, onde Korczak nos deixa o seguinte pensamento: “eu existo não para que me amem e admirem, mas para que eu mesmo aja e ame. Todos os que me cercam não têm o dever de me ajudar, porém meu dever é cuidar dos que me cercam, cuidar do ser humano”.
De tempos em tempos a humanidade toma conhecimento da existência de pessoas aparentemente comuns que depois revelam um especial talento para abranger no seu amor mais que uma só pessoa, mais que os seus, falando de família sanguínea e dos amigos mais próximos. Um exemplo de amor tão amplo e extremado como o de Korczak nos parece irreal, diante da forma de amor de que comumente somos capazes. Geralmente, ligamos nosso amor a um objeto, a um ser amado ou a alguns seres que escolhemos para amar. Assim, é comum sofrermos horrores quando somos deixados, traídos, frustrados nesse amor que demos e que, acreditamos, nos dá o direito de receber em troca.
Isso nos leva a questionar se sabemos realmente amar. Se nos ocuparmos mais amplamente desse problema, veremos que não somos os únicos. Grandes mestres da humanidade já se debruçaram sobre isso para tentar descobrir porque o amor é ao mesmo tempo fonte de grandes prazeres e de grandes dores para o homem.
Vemos, por exemplo, em O Banquete, de Platão, que Diotima ao dar a Sócrates uma lição sobre o amor, ensina que o amor é o desejo de possuir para sempre o que é bom e o que é belo, é o desejo da imortalidade. Já no Séc. XX, o psicanalista alemão Erich Fromm chega à mesma conclusão de Platão, aplicando uma leitura correlata ao amor. Para ele, essa busca da imortalidade se traduz melhor como a busca por uma integração universal com tudo que existe, com a natureza e tudo que nos cerca.
Um dos mais brilhantes teóricos da Psicanálise, esse que também foi um revisor de Freud, diz que a consciência de si mesmo, a razão, promove no homem também a consciência de sua solidão, de sua separação e descontrole diante das forças da natureza. Segundo ele, todos nós buscamos superar essa separação, esse estado de “insuportável solidão”. Mas de que jeito superar essa angústia?
Fromm diz que há muito tempo os caminhos tentados pela humanidade são basicamente os mesmos: a religiosidade, a excitação de estágios orgíacos, a conformação a uma rotina e ordem social pré-estabelecida, as artes e atividades criadoras em geral. Porém, a resposta mais completa para romper esse ciclo de solidão e separação seria, para Erich Fromm, o amor: “o desejo de fusão interpessoal é o mais poderoso anseio do homem”, afirma.
Mas existem, segundo ele, as formas de amor imaturas: união simbiótica (com anulação de uma identidade própria); masoquismo (consiste em se deixar subjugar pelo outro); e sadismo (consiste em subjugar o outro). Esse amor imaturo redundaria nos sofrimentos e frustração ilustrados acima. Já o amor maduro, seria uma “união sob a condição de preservar a integridade própria”, teoriza o psicanalista e, portanto, com mais chances de nos levar ao lado apenas prazeroso do amor, já que está mais centralizado em nós mesmos e não na dependência do objeto do nosso amor.
Para explicar isso melhor, Fromm toma emprestado de Spinoza, um racionalista holandês do século XVII, a diferença entre afetos ativos e passivos. Ele diz que o caráter ativo do amor consiste, antes de tudo em dar: “dar é mais alegre do que receber, não por ser uma privação, mas porque no ato de dar encontra-se a expressão da minha vitalidade”, disse Spinoza. Assim, o ato de dar amor seria, em si mesmo, um ato de requintada alegria, desde que não veja o outro como meio para se obter algo de volta, e sim como um fim em si.
Porém, esse ato de dar, tal como Fromm o descreve, só poderia ser atingido por quem desenvolveu o próprio caráter a ponto de superar aspectos de si mesmo, como dependência, onipotência narcisista, desejo de explorar o outro ou de amealhar. Depende de ter fé em seus poderes humanos, diz ele...Fromm continua, afirmando que, na medida em que faltarem essas qualidades, a pessoa será temerosa em dar e também em amar de forma madura.
Para chegarmos a esse nível de vivência do amor, Diotima, em suas lições para Sócrates, traça uma interessante rota. Diz ela que, após ter partido da admiração da beleza de um só corpo, devemos ver essa beleza em todos os corpos. Depois, considerar como mais preciosa a beleza da alma que dos corpos. Então, o próximo estágio do desenvolvimento do amor será verificar a beleza que há nas belas atividades e práticas, no bem comum e no conhecimento.
Nesse ponto, o aprendiz do amor não irá se amesquinhar na percepção da beleza de um só, não mais será escravo da necessidade de receber e sim produzirá beleza e amor em profusão, ensina Diotima. Terá também conquistado o afeto ativo de Spinoza, o amor maduro de Fromm, como parece ter sido o caso de Korczak, que não esperou reconhecimento pelos seus atos, mas sentia uma profunda alegria em simplesmente compartilhar com o mundo suas descobertas sobre o amor, através de palavras e atos.
Por afinidade com a educação, passou a freqüentar também o curso de pedagogia, tendo depois concluído os estudos de medicina e graduado-se em pediatria. Anos mais tarde, seu talento no trato com as crianças e seus conhecimentos como pedagogo lhe renderam a diretoria de um orfanato. Foi aí que se mostrou em todo esplendor o amor de Janusz Korczak pelas crianças. Um amor que o levou a ficar conhecido não só como médico ou escritor, mas como um dos grandes educadores do Séc. XX. Porém, não só isso. Esse polonês de origem judaica levou ao extremo seu amor pedagógico, ao morrer junto com os órfãos no campo de concentração nazista de Treblinka, após a invasão da Polônia pelo exército alemão, na Segunda Guerra Mundial.
Mas o que poderia ter levado um intelectual, um prático da educação como Korczak a esse ponto, já que anos antes teve a chance de sair do país? Isso equivale a perguntar de que matéria é feita a alma dos mártires. Uma pista está em uma das obras escritas por ele. Mais precisamente no livro “Como Amar uma Criança”, onde Korczak nos deixa o seguinte pensamento: “eu existo não para que me amem e admirem, mas para que eu mesmo aja e ame. Todos os que me cercam não têm o dever de me ajudar, porém meu dever é cuidar dos que me cercam, cuidar do ser humano”.
De tempos em tempos a humanidade toma conhecimento da existência de pessoas aparentemente comuns que depois revelam um especial talento para abranger no seu amor mais que uma só pessoa, mais que os seus, falando de família sanguínea e dos amigos mais próximos. Um exemplo de amor tão amplo e extremado como o de Korczak nos parece irreal, diante da forma de amor de que comumente somos capazes. Geralmente, ligamos nosso amor a um objeto, a um ser amado ou a alguns seres que escolhemos para amar. Assim, é comum sofrermos horrores quando somos deixados, traídos, frustrados nesse amor que demos e que, acreditamos, nos dá o direito de receber em troca.
Isso nos leva a questionar se sabemos realmente amar. Se nos ocuparmos mais amplamente desse problema, veremos que não somos os únicos. Grandes mestres da humanidade já se debruçaram sobre isso para tentar descobrir porque o amor é ao mesmo tempo fonte de grandes prazeres e de grandes dores para o homem.
Vemos, por exemplo, em O Banquete, de Platão, que Diotima ao dar a Sócrates uma lição sobre o amor, ensina que o amor é o desejo de possuir para sempre o que é bom e o que é belo, é o desejo da imortalidade. Já no Séc. XX, o psicanalista alemão Erich Fromm chega à mesma conclusão de Platão, aplicando uma leitura correlata ao amor. Para ele, essa busca da imortalidade se traduz melhor como a busca por uma integração universal com tudo que existe, com a natureza e tudo que nos cerca.
Um dos mais brilhantes teóricos da Psicanálise, esse que também foi um revisor de Freud, diz que a consciência de si mesmo, a razão, promove no homem também a consciência de sua solidão, de sua separação e descontrole diante das forças da natureza. Segundo ele, todos nós buscamos superar essa separação, esse estado de “insuportável solidão”. Mas de que jeito superar essa angústia?
Fromm diz que há muito tempo os caminhos tentados pela humanidade são basicamente os mesmos: a religiosidade, a excitação de estágios orgíacos, a conformação a uma rotina e ordem social pré-estabelecida, as artes e atividades criadoras em geral. Porém, a resposta mais completa para romper esse ciclo de solidão e separação seria, para Erich Fromm, o amor: “o desejo de fusão interpessoal é o mais poderoso anseio do homem”, afirma.
Mas existem, segundo ele, as formas de amor imaturas: união simbiótica (com anulação de uma identidade própria); masoquismo (consiste em se deixar subjugar pelo outro); e sadismo (consiste em subjugar o outro). Esse amor imaturo redundaria nos sofrimentos e frustração ilustrados acima. Já o amor maduro, seria uma “união sob a condição de preservar a integridade própria”, teoriza o psicanalista e, portanto, com mais chances de nos levar ao lado apenas prazeroso do amor, já que está mais centralizado em nós mesmos e não na dependência do objeto do nosso amor.
Para explicar isso melhor, Fromm toma emprestado de Spinoza, um racionalista holandês do século XVII, a diferença entre afetos ativos e passivos. Ele diz que o caráter ativo do amor consiste, antes de tudo em dar: “dar é mais alegre do que receber, não por ser uma privação, mas porque no ato de dar encontra-se a expressão da minha vitalidade”, disse Spinoza. Assim, o ato de dar amor seria, em si mesmo, um ato de requintada alegria, desde que não veja o outro como meio para se obter algo de volta, e sim como um fim em si.
Porém, esse ato de dar, tal como Fromm o descreve, só poderia ser atingido por quem desenvolveu o próprio caráter a ponto de superar aspectos de si mesmo, como dependência, onipotência narcisista, desejo de explorar o outro ou de amealhar. Depende de ter fé em seus poderes humanos, diz ele...Fromm continua, afirmando que, na medida em que faltarem essas qualidades, a pessoa será temerosa em dar e também em amar de forma madura.
Para chegarmos a esse nível de vivência do amor, Diotima, em suas lições para Sócrates, traça uma interessante rota. Diz ela que, após ter partido da admiração da beleza de um só corpo, devemos ver essa beleza em todos os corpos. Depois, considerar como mais preciosa a beleza da alma que dos corpos. Então, o próximo estágio do desenvolvimento do amor será verificar a beleza que há nas belas atividades e práticas, no bem comum e no conhecimento.
Nesse ponto, o aprendiz do amor não irá se amesquinhar na percepção da beleza de um só, não mais será escravo da necessidade de receber e sim produzirá beleza e amor em profusão, ensina Diotima. Terá também conquistado o afeto ativo de Spinoza, o amor maduro de Fromm, como parece ter sido o caso de Korczak, que não esperou reconhecimento pelos seus atos, mas sentia uma profunda alegria em simplesmente compartilhar com o mundo suas descobertas sobre o amor, através de palavras e atos.
Assinar:
Postagens (Atom)