quinta-feira, 5 de março de 2009

Salve-se, quem quiser!



Se a mente é mesmo como a superfície de um lago, deve ser verdade que, uma vez agitada, a gente não consiga enxergar o mundo com clareza. É preciso acalmá-la. Mas, como fazer isso em um tempo onde a vida virtual compete com a real, onde perdemos tão facilmente o foco, deixando de lado a oportunidade de repensar nossas vidas, de nos reinventar, mudar os rumos e não querer mais do mesmo?

Orkut, msn e skype nos põem em contato com o mundo, mas às vezes desviam a atenção dos nossos objetivos ou mesmo de pequenos prazeres, como o de passar uma noite com os amigos ou uma tarde de bobeira conversando com quem escolheu viver o tempo todo na “vida real”. A TV, nosso narcótico em declínio, ainda nos hipnotiza a ponto de acharmos que a vida de um grupo de confinados em uma casa cheia de câmeras, onde praticamente nada acontece fora do roteiro, é mais interessante q a nossa.

Mas isso tudo, a gente, às vezes, escolhe não ver. Assim como escolhemos não ver a nós mesmos em meio à agitação externa. Por isso, parecem enfadonhas e sem sentido perguntas filosóficas como “qual é o meu papel nessa vida?”, “como contribuir pra um mundo melhor?”, “acordar e levantar todos os dias é uma ação que se justifica só pq sou bicho?”, “o que faço pra minha vida deixar de ser essa rotina come-dorme-estuda-trabalha?”, “sou mesmo mais q um animal?”, “a felicidade é alcançável ou vou sempre achar que ela está num futuro incerto?”, “posso me sentir feliz, apesar do caos?”.

Mesmo em tempos pré-internet, vivi uma vida inteira não querendo ser eu, sempre querendo ser como alguém que me servia de parâmetro, geralmente heróis vindos de livros, dos filmes ou q eu encontrava na escola. Mas o tempo passou e me dei conta de que não há heróis lá fora, cada um vive como pode, e a maioria está tão insatisfeita consigo mesma quanto eu. O problema é q eu e a maioria dificilmente admitimos que não há um ingrediente secreto ou transformação repentina q vá nos fazer, do dia pra noite, ser como nossos idealizados heróis. Se quisermos uma mudança aqui, temos q trabalhar em cada milímetro dela.

No fim, a vida dos outros é tão interessante ou desinteressante quanto a minha ou a sua, o que faz a diferença é o quanto a pessoa se ocupa de si mesma e faz dessa vida um lugar onde as coisas acontecem. Mas é mais fácil fugir desse desafio e viver uma vida de voyer, enquanto a gente envelhece e nada muda pq nós não quisemos mudar. Assim, não nos arriscamos, mas tb não ganhamos nada. Não queremos sofrer e tampouco nos permitimos estar felizes, vivendo as emoções e surpresas de cada dia bem vivido.

É essa matemática do medo e da fuga que faz a vida de alguns de nós ser sempre a mesma coisa, terminar como começou. É essa mesma mágica que explica porque uns saem de condições adversas pra outras onde tudo é diferente. O desafio é ser pró-ativo, é fazer acontecer, não importa o tamanho do dispêndio de energia, não importa se vc mora na rua (como aquele nordestino que passou em uma universidade conceituada após seis anos tentando o vestibular) ou em uma mansão, trabalha no lixão ou na Avenida Paulista, anda a pé ou de carrão.

Nesse ponto é que, talvez um dia, se vc se permitir, a agitação dê uma trégua e vc acorde com saudades, como a que você sente de um grande amigo que veio te visitar, e vc sabe q - logo, logo - ele estará partindo. Por causa disso, vc sofre de saudades antecipadas, mas não tem como se fundir com ele e ir junto, precisa apenas acalmar a dor da separação e aproveitar que ele está na sua frente.

Só que, se enxergar as coisas por esse ângulo, o da ação, talvez descubra que o tal amigo é você mesmo. E sentirá que não importa de quanto tempo disponha, mesmo que desligue TV e Internet, jamais terá tempo suficiente pra esgotar essa vontade de mergulhar em si msm, de matar essa saudade. Talvez nesse ponto vc descubra que o herói que sempre quis ser estava o tempo todo esperando que vc o visse, aí mesmo, onde vc nunca o procurou.

(Post: Nil)

Um comentário:

  1. Nenee.
    aiin, coisinha difícil amar a anossa vida. coissinha difícil achar o q passamos no dia-a-dia, interessante.
    mas pq?? pq o q nós vivemos, afinal de contas, a NOSSA VIDA, nao eh tao interessante??
    dilema big brother!!!

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