quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Penso. Logo, desisto...
Esse negócio de pensar demais, em algumas ocasiões pode atrapalhar. Quer um exemplo? Qualquer pessoa q digite sem olhar para as teclas do computador sabe que, se ficar olhando demais, vai digitar mais devagar do que normalmente digitaria sem olhar...
Tem uma explicação científica pra isso. Eles dizem que ocorre um certo conflito de atribuições no cérebro. O córtex frontal, que é a parte que distribui e supervisiona as ordens, “briga” com os núcleos de base, responsáveis pelo “piloto automático”. Isso quer dizer que o cérebro, de alguma forma, memorizou onde se encontram as teclas e é capaz de localizá-las sem esforço, por automatismo. Por isso, se vc se força a pensar em onde está cada uma delas, só perde tempo, já que é o tipo de instrução dispensável para o piloto automático. É assim com os aprendizados seqüenciais, aqueles q muitas vezes memorizamos “sem saber”, e nem sequer pensamos que já aprendemos, simplesmente sabemos.
Me pergunto se isso tb não serve para outros aspectos da vida, como os conflitos existenciais típicos de quem dispõe do chamado ócio produtivo, como ilustra o diálogo abaixo:
nildene diz:
às vezes, vc lembra? a gente ficava discutindo a implicação do sexo dos anjos na reprodução das mariposas...
nildene diz:
e de acordo com as nossas conclusões nosso comportamento tinha q ser assim ou assado...se fosse de outra maneira era quase uma heresia
nildene diz:
uau! q peso!
Adriano diz:
vc tem razão sabe...
Adriano diz:
acho q estavamos tao entusiasmados com o nosso mundo, o q criamos
Adriano diz:
q deixamos de lado algumas coisas mais "terrenas"
Adriano diz:
q tb sao importantes
Quando li o Cândido, do Voltaire, por indicação do Lau, essa coisa de dispensar os “comandos” e deixar um pouco de lado o “sexo dos anjos” veio mais fortemente na minha cabeça... Pensar em cada aspecto da vida é realmente fundamental?
A história do Cândido é basicamente a de um rapaz crédulo que, inspirado no seu mestre Pangloss, acreditava que o mundo é “o melhor dos mundos possíveis”, uma crítica direta de Voltaire a Leibniz (que semelhança com a gente, heim, Adriano!). Depois de sofrer inúmeras desgraças, ser expulso do castelo onde morava, saber q sua amada foi estuprada e vendida como prostituta, ficar rico e depois na miséria, encontrar a querida Cunegundes balofa e acabada pelas agruras q passou e ainda assim casar com ela, Cândido passa a duvidar dessa visão otimista do mundo. Porém sua incredulidade não chega ao ponto de achar, como um amigo seu maniqueísta, que a vida é só um amontoado de desgraças q se sucedem. E assim, segue com esse grupo de esfomeados a debater o sentido da vida até encontrar um velho agricultor a quem pede opinião sobre o conflito. O agricultor responde apenas que não tem nada a ver com isso e que se preocupa apenas em cultivar sua terra, pois o trabalho, segundo ele, “afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade”.
No fim, os amigos de Cândido deixam o velho pra trás e continuam debatendo... até que Cândido, num acesso de bom senso, diz: “tudo isso está muito bem, mas devemos cultivar nosso jardim.” ... Depois de muito especular, Cândido parece ter chegado à mesma conclusão do agricultor, sobre o tédio, o vício e a necessidade, só q por outro caminho. Se mais longo ou mais curto, quem sabe? Isso importa?
Quero crer q todos os caminhos são válidos e que cada um tem em si bom senso e livre-arbítrio suficientes pra perceber quando é hora de pensar e quando é hora de mandar toda a mentalização praquele lugar e simplesmente agir. Não estou aqui pra dar lições sobre isso. Só posso dizer que, quanto a mim, apesar de achar que tem horas q preciso msm parar pra pensar, resolvi q também não custa nada me entregar, de vez em quando, à hipnose de um bom projeto de trabalho ou ao ócio improdutivo de dar boas gargalhadas vendo Mr. Bean. Tudo isso, enquanto deixo pro piloto automático a tarefa cansativa de resolver certos conflitos recorrentes, como deve ter feito o velho agricultor, ao surpreender Cândido com uma resposta sobre a qual ele ainda não tinha pensado. Esse é meu desafio agora. Não espero respostas caídas do céu, mas por quê não desviar o foco, deixando que novos olhares surpreendam velhos problemas?
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Oh, Nil, que massa, é tão simples e genial como são as melhores idéias e coisas do mundo. Não precisamos malhar no mesmo ferro eternamente, procurando implicações filosóficas e transcendentes para cada mínima ação, só precisamos ligar o piloto automático e "fazer" o trivial, ou seja, viver para a vida, o hoje, os que amamos e sobretudo pra nós mesmos.
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