segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Um texto gay

Eu gosto de gays. Quando ando pelas ruas, costumo olhar nos olhos deles. Tenho uma sensibilidade especial para reconhecê-los no meio da multidão e não estou me referindo a trejeitos ou algo assim. É um feeling, não preconceito.

Os gays são pessoas muito especiais; carregam um brilho e uma expressão que varia entre o medo e o pedantismo. Contudo, algo nos seus olhos, invariavelmente implora por amor. Não sei como pode ser, mas eu sempre sou atraída por esse fascinante olhar que pede algo que parece impossível de ser dado a alguém...

São criaturas arredias, a princípio, arrogantes, quando percebem o interesse de alguém. Isso é claro, quando o gay é um ser que já se ‘assumiu’, embora não necessariamente tenha se aceitado. Considero essa reação absolutamente compreensível, para quem vive na fronteira máxima dos sentimentos, sempre em busca do reconhecimento, da própria valorização ou, pelo menos do respeito dos que o cercam, encontrando freqüentemente frieza e maldade na maioria das pessoas, principalmente entre amigos e familiares. Quem os poderia censurar? Quem os poderia apontar? Quantos não o fazem?

Quando não se assume, o gay costuma se esconder atrás de uma postura afetada de auto-adoração que o transforma em um ser digno de pena. Na verdade, um senso de proteção instintivo é o responsável por este pedido de socorro. Sempre que posso, tento conscientizar um amigo dessa situação difícil, mostrando-lhe que a vida será bem mais fácil e segura se ele se encontrar e se impor enquanto indivíduo livre e merecedor de respeito, além de muito amor. Pelo menos ele saberá quem são seus verdadeiros amigos. Já será um bom começo!

Em grande parte, devo aos gays minha consciência do quanto somos medíocres tentando ser o que não somos, tentando mentir e enganar nosso reflexo no espelho, dizendo a nós mesmos que somos equilibrados, que somos “normais”. Gente normal ama, sente desejo, sonha, espera, conquista, quer ser amado, desejado, quer viver ao lado de um ser que o complete.

Os gays são normais. Eles sentem tudo isso, exatamente assim. Dentre os casais que conheço os mais harmoniosos, os mais felizes, tranqüilos, amigos e companheiros, são casais gays. Em poucos casais vi tanto amor, tanta dedicação, tanta admiração pelo outro, tanta aceitação. Então, me orgulho de dizer, isso aprendi com os gays: a ser honesta com os meus próprios sentimentos, a ser consciente das minhas misérias íntimas e me aceitar, me amando, ainda assim. Depois, e só depois, é que vieram os livros, a filosofia e algumas poucas respostas.

Na obra O Banquete, de Platão, Aristófanes trata do tema do amor homossexual enfocando o mito de Andrógino e conta a história dos seres de terceiro gênero, apartados por Zeus um do outro, como castigo pela sua arrogância, sempre a se buscarem com avidez e ansiedade, como solução para sua angústia e por necessidade de complemento. Desta forma, os que possuíam forma feminina procuravam mulheres e os de forma masculina, se afinizavam na busca do amor de outros homens, não por despudor, mas por demonstrar coragem em satisfazer suas necessidades. Não somente a atração sexual os aproximava, mas o desejo sincero de amizade estima e respeito os ligava. Tanto que a nenhum outro amavam, e sinceramente desejariam viver e morrer como um só.

Em outro trecho, narra Platão o amor do jovem Alcibíades por Sócrates, bem como as artimanhas do rapaz para que o filósofo lhe partilhasse o amor e o leito. Sócrates o acolheu com amor, abraçando-o sem lhe partilhar o corpo. Entendendo, porém, que o amor de Alcibíades merecia respeito, Sócrates o acolheu nos braços, como pai ou como irmão, de modo que no dia seguinte continuavam a ser como antes: mestre e discípulo.

Nos dois trechos, percebe-se a sensibilidade do autor, demonstrando a compreensão do filósofo grego para um tema tão palpitante quanto delicado: de início, demonstrando a propensão natural da busca do Andrógino pela sua “metade”, como necessidade máxima de busca da própria felicidade e realização pessoal; em seguida, a adequada reação de um ser que não deseje unir-se a outrem para um relacionamento afetivo, tratando, porém, de não ferir a sensibilidade do que busca inutilmente ser correspondido no amor.

Não é a orientação sexual dos gays que deve ser o ponto chave das discussões em fóruns, livros de auto-ajuda, debates em escolas ou ainda nos dogmas desta ou daquela religião. É antes, a capacidade de amar que existe em cada ente que deve ser vista e protegida, como forma de construção ou resgate da estima e da sobrevivência emocional dos envolvidos nesse processo de aceitação do gay em relação a si mesmo e aos que o cercam.

Eis o que resta a compreender: é preciso saber amar, buscando em si mesmo a essência do amor, para se entregar ao ser amado sem temor quando encontrá-lo. É preciso saber amar, para desvincular a necessidade de afeto da carência sexual, aprendendo caminhos de compreensão que não firam e não afugentem indivíduos dignos de serem amados.

No mais, o pejorativo “gay” não diminui a essência do homossexual, quando este encontrou no amor dos seus familiares, amigos, companheiro ou companheira seu referencial de felicidade. Nem a frieza, nem a negação ou a repulsa de quem quer que seja ferirá o indivíduo que se sabe aceito e amado pelos seus.

12 comentários:

  1. Adorei o txt josinha!

    Minha simpatia pelos gays foi muito bem refletida por vc! Como diz o povo, somos duas almas numa cumbuca....rs

    Bjos

    ResponderExcluir
  2. Jô o texto é incrível,mostra de uma forma tão facilmente aceitavel e livre de qualquer tipo de preconceito...muito bom o texto!
    bjs

    Ass:suzane

    ResponderExcluir
  3. eu gostei :) palavras de um sabio !

    ResponderExcluir
  4. acho que toda forma de amor e verdadeira seja ela qual fora???????????????????????

    ResponderExcluir
  5. Olá, adorei esse texto.
    Poderia seguir meu blog ? e se puder, divulga ele ?
    preciso de uma ajudinha :\ http://nossadiversidade.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  6. boa! O mundo precisa de pessoas como tu..
    continua.
    Adorei o texto. :)

    ResponderExcluir
  7. fiquei toda arrepiada ao ler seu texto.
    à se todo ser humano pensasse pelo menos metade do que vc pensa, teríamos um mundo bem melhor.

    ivy lima- fortaleza ceara

    ResponderExcluir
  8. o diverso diferente é necessário.pois como se sentiria o dito padrão ,normal se nao houvesse o gay,que é quem cria um mundo a parte /sem frescura alienante cerceante normalizante?

    ResponderExcluir
  9. homoafetivos beijos
    adoção de menores
    por casais homoafetivos
    homoafetivos love

    ResponderExcluir
  10. Nossa, que perfeito o seu texto, meus parabéns, e fico feliz de saber que ainda existem pessoas que pensam e agem dessa forma! PARABÉNS MESMO ! . obrigado, me ajudou bastante o TEXTO.

    ResponderExcluir
  11. Amei o seu texto beh, é muito raro agente encontra pessoas assim que tão dando respeito pra gente, eu sou lesbica, me assumi tem pouco tempo, mais sinto na pele a rejeição de alguns dos meus familiares, graças a deus os meu amigos nenhum virarão as costa pra mim , mais por outro lado minha mae no aceita , então eu to muiito feliz em saber do seu ponto de vista e de tudo que vc aprendeu convivendo com os homosexuais. meu nome é Rozanna nascimento . sou da Bahia, e tive curiosidade em saber um pouco mais de mim , é so me procura nas redes , meu facebook ai: https://www.facebook.com/rozanna.nascimento . sou de ilheus. obrigada pelas palavras

    ResponderExcluir