sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Por que “Pá de idéia”?

...Porque uma idéia chama outra e acaba juntando um monte q só dá pra apanhar com uma pá!
Então, a gente (Elaini, Jô, Nildene, Paulo Henrique e Venceslau Felipe) resolveu fazer um blog para divulgar nossas viagens. A primeira delas é uma série de textos sobre o Mito de Giges. O que é isso? É só ler, aqui abaixo, porque transcrevemos direto de A República, de Platão... Em seguida, tem o primeiro texto. Na verdade, um poema baseado no mito...

Se gostou comente, se não gostou, comente msm assim...e boa viagem vc tb!


“A permissão a que me refiro seria especialmente significativa se eles recebessem o poder que teve outrora, segundo se conta, o antepassado de Giges, o Lídio. Este homem era pastor a serviço do rei que naquela época governava a Lídia. Cedo dia, durante uma violenta tempestade acompanhada de um terremoto, o solo fendeu-se e formou-se um precipício perto do lugar onde o seu rebanho pastava. Tomado de assombro, desceu ao fundo do abismo e, entre outras maravilhas que a lenda enumera, viu um cavalo de bronze oco, cheio de pequenas aberturas; debruçando-se para o interior, viu um cadáver que parecia maior do que o de um homem e que tinha na mão um anel de ouro, de que se apoderou; depois partiu sem levar mais nada.

Com esse anel no dedo, foi assistir à assembléia habitual dos pastores, que se realizava todos os meses, para informar ao rei o estado dos seus rebanhos. Tendo ocupado o seu lugar no meio dos outros, virou sem querer o engaste do anel para o interior da mão; imediatamente se tomou invisível aos seus vizinhos, que falaram dele como se não se encontrasse ali. Assustado, apalpou novamente o anel, virou o engaste para fora e tomou-se visível.

Tendo-se apercebido disso, repetiu a experiência, para ver se o anel tinha realmente esse poder; reproduziu-se o mesmo prodígio: virando o engaste para dentro, tomava-se invisível; para fora, visível. Assim que teve a certeza, conseguiu juntar-se aos mensageiros que iriam ter com o rei. Chegando ao palácio, seduziu a rainha, conspirou com ela a morte do rei, matou-o e obteve assim o poder.”

(Trecho do Livro II de A República, de Platão)




Sobre o mito de Giges e o anel, na República de Platão.

Andava o lídio em lépido caminho
Arrebanhando ovelha em desalinho
Quando Atlas golpeou o dorso do mundo
Sulcando a crosta num rasgão profundo

Abriu-se-lhe à vista fenda magistral
Enigmática, atraente, sedutora
Em cuja boca esbarraria, se não fora
Suficientemente fraca a sua moral

E palmilhou a vereda enegrecida
Ergueu-se-lhe maravilha inexistente
No mundo dos mortais, pois somente
Na barriga de Gaia há conhecida

Esbarrou diante dum corcel dourado
Erguida em bronze, altiva escultura
Tão fantástica e obscura sepultura
Quão obscuro e fantástico sepultado!

No imo do cavalo estático se alojava
Sobre-humana figura já sem vida
Em um dos dedos mortos repousava
Sonhada jóia que à escuridão convida...

A Giges acometeu súbita vertigem
De incoercível e colossal origem
Obrigando-lhe a manter os olhos junto
Ao encovado olhar do singular defunto

Na palidez daquele vão sombrio
O nada à ambiciosa alma invadira
A qual de pronta vontade aderira
Às tenazes poderosas do vazio...

Coisa tenebrosa então lhe sucedeu
O cadáver contra ele arremeteu
O olhar que nada via lhe enxergava
A boca muda de milênios lhe falava...

“Toma o anel em minha destra engastado”
“E dá vazão à tua ancestral cobiça”
“Entrega-te à luxúria e à injustiça”
“Assassina o rei e te faz o coroado!”

“Nenhuma sorte de males te ameaça”
“Pois a qualquer poder ele ultrapassa”
“Com o artefato de que ora te invisto”
“Tudo podes obrar sem jamais ser visto...”

O pastor acordou do transe horrível
E julgou que loucura lhe alcançava
Mas a sinistra mão ainda lhe ofertava
A encantada jóia de beleza incrível!

Demasiada humilde, a vida de pastor
Para espírito de sua qualidade e primor!
Desejou o cetro da glória e do poder
E os prazeres do palácio pra sorver...

Tomou do anel e da cripta retirou-se
Foi ocupar-se dos seus novos trabalhos
E rasgando sua bondade aos retalhos
À eterna escuridão enfileirou-se...

(Paulo Henrique, no livro O Retalhador de Sombras)

3 comentários:

  1. lindo o poema!
    tocante!
    tinha que ser o Paulinho..
    adorei pessoal!

    ResponderExcluir
  2. Não conhecia esse teu poema... mt bom, como sempre! Fez um excelente resumo do mito. Abção! Adorei a idéia do blog. Não poderíamos deixar o tempo nos arrastar e arrancar d nós a linda Amizade q, mesmo por pouco tempo, nesta vida, pudemos compartilhar. Uma ótima forma d continuarmos a existir uns para os outros... Quanta saudade do tempo de pensar... coisa q nem sei mais fazer!

    ResponderExcluir
  3. Pois convidamos você, Alice e todos os que desejarem pensar, a fazer parte dessa família chamada amor/amizade.

    E convidamos a escrever também, trazer sua contribuição porque é com idéias que este blog pretende contribuir com muitas pessoas, longe ou perto.

    Obridaga por estar aqui, com a gente!

    ResponderExcluir